(Reflexões anárquicas sobre política externa, com fortes
desconfianças de quem, e há muitos, não consegue estabilizar a sua perceção de
Portugal e da sua dimensão. Em pleno acordo com a posição do Governo
português, salvo desenvolvimentos posteriores, sublinho bem, salvo desenvolvimentos
posteriores em termos de informação.)
Clara Ferreira
Alves, numa das suas mais recentes Plumas Caprichosas, explicou-nos a alma
russa e como ela está oculta, pronta a despertar a uma sucessão de copos de
vodka, após o banho etílico dos neurónios. Sabemos também que a atual Federação
Russa, depois uma atribulada transição a partir da queda da União Soviética, é
um poço de existências para-institucionais, nada recomendáveis e seguramente misturadas
com as formas mais obscuras do crime organizado e da violência escondida. Lembro-me
de um amigo catalão, então alto funcionário da Câmara de Barcelona, que me
dizia que numa série de viagens a São Petersburgo dava frequentemente na rua com
gente a oferecer-lhe material militar do mais bélico e sofisticado. Por isso,
atendendo ao “track record” de eliminação
de dissidentes do atual regime soviético, não me admira que a recente tentativa
de envenenamento do ex-espião e de sua filha na pacata Salisbury esteja
relacionada com essas múltiplas manifestações para-institucionais e paramilitares
que abundam no antigo país dos Sovietes. Mas daí a estabelecer uma relação
direta com a intervenção do Governo de Putin irá uma certa distância, que as
autoridades britânicas teimam em não revelar e não creio que as tenham revelado
pelo menos do ponto de vista institucional à União Europeia. Claro que um
regime como o de Putin, tão lesto e célere em colocar atrás das grades
opositores mais barulhentos, pelo facto de não controlar tais manifestações de
desvio do poder merece censura ampla e vigorosa.
O
acontecimento, qualquer que seja a real dimensão da culpa do regime de Putin, emergiu
como uma dádiva das trevas para se afirmar com uma posição musculada que os líderes
político em baixa e acossados por vários lados muito gostam de evidenciar. Theresa
May e Donald Trump cabem como uma luva nesse estatuto de líderes encurralados. May
está à beira do abismo à medida que se vai dando conta que as expectativas de
gestão do Brexit que foi disseminando a nível interno vão, uma a uma, sendo
quebradas e obrigada a redimensionar tais expectativas. Trump ainda não se
livrou da sua cumplicidade Putiniana e podemos dizer que o encurralamento
provocado pela “gorgeous” Stormy Daniels é apenas um interregno numa ameaça
maior. Por isso, qualquer mente aberta com um mínimo de conhecimento destes
meandros diplomáticos e institucionais conclui rapidamente que a resposta do
Reino Unido e dos EUA, acompanhada por muitos, é mais para consumo interno do
que para marcar uma posição efetiva em termos de sinal a dar ao mundo.
Alguns mentes
pouco esclarecidas e também com agendas voltadas para o consumo interno, à sua
real dimensão, têm-se insurgido contra a posição do Governo português de não
alinhar com expulsão de diplomatas e, sem ter rejeitado a posição comum da União,
adotou fórmulas mais flexíveis para poder incorporar mais conhecimento sobre a
matéria. Um jornalista como Manuel Carvalho que ultimamente parece que busca a
auto-validação e reconhecimento (para agradar a quem?) nas suas investidas
contra o Governo falou mesmo em política externa de pastilha elástica.
Sinceramente
acho que muito boa gente continua a padecer da distorção de realidade quando à
realidade da dimensão do país no contexto interno que Eduardo Lourenço muito
bem desconstruiu no Labirinto da Saudade. Segundo, tais luminárias, a que se
junta o obviamente alinhado com essa perspetiva diretor do Público, Portugal
teria aqui uma grane oportunidade de ser “grande” e aparecer no mapa. Esta gente
é tola ou quê? Talvez quê, que importa descortinar e perceber razões. Ser
grande e alinhar com uma reação diplomática que é mais o resultado de
lideranças acossadas?
Augusto Santos
Silva, cada vez mais contido e maduro, respondeu bem, colocou os pontos nos
iiis e mostrou claramente que uma diplomacia de bisturi e de construção de
pontes não é o equivalente de uma política externa subserviente e de cócoras. Até
porque estou convencido que tais luminárias se o governo tivesse alinhado e em
força com as expulsões de diplomatas russos viriam rapidamente dizer que era
ridículo o país colocar-se em bicos de pés. Vá lá ter pachorra para esta gente
que não consegue estabilizar uma perceção do real Português, hoje com estas
lideranças mundiais incendiárias.
Fui seu aluno há mais de 10 anos e descobri este blog hoje. Folgo em ver que mantém uma linha de pensamento tão esclarecida. Pena que a demagogia tenha triunfado sobre a razão
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