quarta-feira, 28 de março de 2018

FROM RUSSIA …WITH WHAT?



(Reflexões anárquicas sobre política externa, com fortes desconfianças de quem, e há muitos, não consegue estabilizar a sua perceção de Portugal e da sua dimensão. Em pleno acordo com a posição do Governo português, salvo desenvolvimentos posteriores, sublinho bem, salvo desenvolvimentos posteriores em termos de informação.)

Clara Ferreira Alves, numa das suas mais recentes Plumas Caprichosas, explicou-nos a alma russa e como ela está oculta, pronta a despertar a uma sucessão de copos de vodka, após o banho etílico dos neurónios. Sabemos também que a atual Federação Russa, depois uma atribulada transição a partir da queda da União Soviética, é um poço de existências para-institucionais, nada recomendáveis e seguramente misturadas com as formas mais obscuras do crime organizado e da violência escondida. Lembro-me de um amigo catalão, então alto funcionário da Câmara de Barcelona, que me dizia que numa série de viagens a São Petersburgo dava frequentemente na rua com gente a oferecer-lhe material militar do mais bélico e sofisticado. Por isso, atendendo ao “track record” de eliminação de dissidentes do atual regime soviético, não me admira que a recente tentativa de envenenamento do ex-espião e de sua filha na pacata Salisbury esteja relacionada com essas múltiplas manifestações para-institucionais e paramilitares que abundam no antigo país dos Sovietes. Mas daí a estabelecer uma relação direta com a intervenção do Governo de Putin irá uma certa distância, que as autoridades britânicas teimam em não revelar e não creio que as tenham revelado pelo menos do ponto de vista institucional à União Europeia. Claro que um regime como o de Putin, tão lesto e célere em colocar atrás das grades opositores mais barulhentos, pelo facto de não controlar tais manifestações de desvio do poder merece censura ampla e vigorosa.

O acontecimento, qualquer que seja a real dimensão da culpa do regime de Putin, emergiu como uma dádiva das trevas para se afirmar com uma posição musculada que os líderes político em baixa e acossados por vários lados muito gostam de evidenciar. Theresa May e Donald Trump cabem como uma luva nesse estatuto de líderes encurralados. May está à beira do abismo à medida que se vai dando conta que as expectativas de gestão do Brexit que foi disseminando a nível interno vão, uma a uma, sendo quebradas e obrigada a redimensionar tais expectativas. Trump ainda não se livrou da sua cumplicidade Putiniana e podemos dizer que o encurralamento provocado pela “gorgeous” Stormy Daniels é apenas um interregno numa ameaça maior. Por isso, qualquer mente aberta com um mínimo de conhecimento destes meandros diplomáticos e institucionais conclui rapidamente que a resposta do Reino Unido e dos EUA, acompanhada por muitos, é mais para consumo interno do que para marcar uma posição efetiva em termos de sinal a dar ao mundo.

Alguns mentes pouco esclarecidas e também com agendas voltadas para o consumo interno, à sua real dimensão, têm-se insurgido contra a posição do Governo português de não alinhar com expulsão de diplomatas e, sem ter rejeitado a posição comum da União, adotou fórmulas mais flexíveis para poder incorporar mais conhecimento sobre a matéria. Um jornalista como Manuel Carvalho que ultimamente parece que busca a auto-validação e reconhecimento (para agradar a quem?) nas suas investidas contra o Governo falou mesmo em política externa de pastilha elástica.

Sinceramente acho que muito boa gente continua a padecer da distorção de realidade quando à realidade da dimensão do país no contexto interno que Eduardo Lourenço muito bem desconstruiu no Labirinto da Saudade. Segundo, tais luminárias, a que se junta o obviamente alinhado com essa perspetiva diretor do Público, Portugal teria aqui uma grane oportunidade de ser “grande” e aparecer no mapa. Esta gente é tola ou quê? Talvez quê, que importa descortinar e perceber razões. Ser grande e alinhar com uma reação diplomática que é mais o resultado de lideranças acossadas?

Augusto Santos Silva, cada vez mais contido e maduro, respondeu bem, colocou os pontos nos iiis e mostrou claramente que uma diplomacia de bisturi e de construção de pontes não é o equivalente de uma política externa subserviente e de cócoras. Até porque estou convencido que tais luminárias se o governo tivesse alinhado e em força com as expulsões de diplomatas russos viriam rapidamente dizer que era ridículo o país colocar-se em bicos de pés. Vá lá ter pachorra para esta gente que não consegue estabilizar uma perceção do real Português, hoje com estas lideranças mundiais incendiárias.

1 comentário:

  1. Fui seu aluno há mais de 10 anos e descobri este blog hoje. Folgo em ver que mantém uma linha de pensamento tão esclarecida. Pena que a demagogia tenha triunfado sobre a razão

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