quinta-feira, 1 de março de 2018

PERCHÉ SIAMO GIUNTI A QUESTO PUNTO?




(A vertigem-roleta eleitoral italiana está em curso – faites vos jeux – e vale a pena perguntar como se chegou até a esta balbúrdia, perigosa, suficientemente perigosa para a ignorarmos. Anuncia-se uma saída provavelmente de sendeiro para Renzi e num cenário desses talvez Berlusconi tenha a gestão do tempo político em Itália nas suas mãos e aí tudo será possível…)

As eleições italianas anunciam-se como um rastilho-provocação e neste momento não é a aparente indiferença dos mercados ao possível dilúvio italiano que me interessa analisar, mas sobretudo as razões que conduziram a este estado das coisas. Mas, na verdade, quando mobilizámos a memória e nos projetamos em alguma cinematografia italiana, na Itália de Mussolini, na degenerescência da poderosa democracia-cristã, nas suas perigosas cumplicidades, já em deriva, com a Máfia e com as faces mais obscuras (ambrosianas) do Vaticano, o resultado dessa introspeção é que tudo isto poderia de facto acontecer. As três Itálias, a elitista e poderosa do Norte, a empreendedora (distritos italianos) e inovadora do Centro e a subsidiada e caótica do Sul não se compreendem, diria que se detestam e essa desarticulação é um barril de pólvora. O caldo está maduro para um tempero populista, do mais fascizante até ao mais antissistema, e as próximas eleições vieram apenas confirmar todo esse cadinho propício.

O caos dá para tudo, até para um partido nascido no passado mês de dezembro, Noi com l’Italia (NCI)  e não será preciso grande imaginação para compreender ao que vem, ou seja, mais tempero e ingredientes para o caldo populista.

O cenário que está desenhado tem múltiplas facetas. Uma delas é a oposição sistema versus antissistema, protagonizada no primeiro lado da balança por forças com grande antagonismo, o centro-esquerda do PD de Renzi, a Forza Itália de Berlusconi, a Liga do Norte e outras forças menos conhecidas como a do NCI, os Irmãos de Itália e a extrema-direita fascista da Aliança Nacional e do outro lado pelo movimento 5 Estrelas. Esta última formação tem-se apresentado irredutível no seu campo de destruição do sistema vigente, embora a gestão desastrosa de algumas cidades italianas como a de Roma dê para interpretações alternativas. Ninguém me convence que o 5 Estrelas não possa furar esse entendimento e admitir alianças e coligações seja com a Liga do Norte, seja com o partido de Berlusconi.

Ironia das ironias, pura tragédia, seria a Forza Itália de Berlusconi emergir como fiel da balança. Já há quem diga que se o compararmos com Trump, Berlusconi arrisca-se a parecer Winston Churchill. Estranho país este em que na beleza intrínseca se gera o caos mais tenebroso. A dissolução e queda do Império Romano parece não ter sido historicamente bem digerida.

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