(José Manuel Galvão Teles sempre foi uma daquelas personalidades
de elite que identificava para mim a modernidade da democracia face ao breu do
antigo regime. Ei-lo que se apresenta tal como sempre foi numa entrevista
à revista do Expresso que é em si um documento histórico sobre o modo como construímos
a transição democrática.
Não vou dissertar sobre
uma entrevista que tem de ser lida, ponto. Vou apenas citar a sua última
resposta, a que aborda a questão, E agora José:
“Agora tenho esta doença, não sei como vai
ser. O futuro a Deus pertence, costuma dizer-se. A mim é que não pertence,
certamente. Julgo que tenho aceitado calmamente a situação em que estou, nunca
me queixo. Só me custa não fazer algumas das coisas que ainda queria fazer. Gostava
muito de ir a Berlim, para ver a arquitetura da nova cidade e de me despedir de
Nova Iorque … Mas tenho este defeito ou esta virtude: não gosto de perder nem a
feijões. Portanto, tento continuar a minha vida normal. Duas vezes por semana
vou a Torres Vedras, a uma clínica especializada em fisioterapia de Parkinson. Dizem-me
que sou o mais rebelde que já passou por lá. Estou sempre a fazer coisas que não
querem que faça, mas luto terrivelmente contra a doença, porque quero vencê-la.
E vencê-la é morrer antes de deixar de estar bem de cabeça. E, se puder, ter
também alguma liberdade corporal. Por isso, agarro-me à minha liberdade com
todas as forças e, por vezes, corro riscos evitáveis só para me sentir livre.”
Para ler em contraponto
com a crónica de Clara Ferreira Alves sobre o envelhecimento.
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