terça-feira, 20 de março de 2018

O PP DE RAJOY MEXE-SE?




O inesquecível personagem de Lampedusa no Leopardo de Visconti dizia que era preciso que tudo mudasse para ficar tudo na mesma. Rajoy não parece convencido dessa máxima de vida e cultiva um imobilismo de outra natureza. Também espera não ter de mudar mas constrói ele próprio uma visão imobilista do contexto em que se insere, formando uma espécie de segunda realidade. Essa não era a perspetiva do personagem do Lampedusa, mas os tempos são outros e temos de baixar padrões de referência.

Todos sabem que o PP de Rajoy está metido num grande lio. A questão catalã permitiu-lhe paradoxalmente alguma imagem de autoridade quando acionou o artigo 155º da Constituição que ninguém tinha ousado fazer e talvez por essa via tenha surpreendido os incautos e desmiolados líderes independentistas catalães que cedo mostraram não ter unhas para tamanha escalada. Mas ao entregar-se nas mãos da justiça, uma opção que lhe assistia, ninguém o questiona, acabou por abdicar de uma solução política que lhe garantisse retomar o controlo (político) da situação. Até porque entretanto, à sua esquerda, o PSOE de Sánchez está entretido com divisões internas a ponto de paralisar a sua intervenção nas Cortes Espanholas e o PODEMOS de Iglésias também não navega em águas menos turvas. Nesse caso, mostrou garras demasiado afiadas para o contexto político espanhol e aguarda por melhores dias. Mas o problema é que Rajoy não contou que a questão catalã catapultasse Rivera e o CIUDADANOS para uma alternativa de direita mais moderna e consequente. Neste momento, o CIUDADANOS já não morde apenas os calcanhares. Já trepa, salvo seja, pelas pernas acima do PP. E nestas andanças da política, com contactos com os meus amigos espanhóis, sobretudo galegos, aprendi a olhar em primeiro lugar para a movimentação da OPUS espanhola. É um excelente barómetro da direita espanhola, sabem mais do que todos os Barcenas e personagens menores deste mundo que gravitam no PP. E, decididamente, a OPUS não está confortável com este marasmo do PP, é nefasto para a modernidade dos negócios e estes têm de ser olhados com profissionalismo, doa às amizades que doerem.

Não tenho conhecimento profundo sobre as personalidades que ladeiam politicamente Rajoy, sobretudo as Señoras Santamaria e Cospedal, para avaliar com rigor se estará nesse campo de mulheres que vão à luta a emergir uma alternativa interna a Rajoy que lhe ofereça uma pausa gratificante e com algum prestígio. Mas sei que Alberto Nuñez Feijóo, líder da Xunta de Galicia, aspira a qualquer coisa. E até sei que Feijóo e Santamaria não escondem as suas inimizades essencialmente políticas. Feijóo tem um perfil que ele julga suscetível de combate a Rivera e se calhar até tem razão.

Ora, ironia das ironias, a síntese matinal do La Vanguardia que chega religiosamente ao meu correio eletrónico publica hoje (link aqui) uma notícia que dá conta da multiplicação de aparecimentos de Feijóo em tudo que é meio de comunicação com projeção nacional em Espanha. Alguma coisa está no ar e se Rajoy constrói uma situação política em que nada mexe há quem no interior do PP não pense assim e se movimente.

Não deixa de ser também irónico que, depois de um ajustamento na economia e na sociedade espanhola de grande dureza, por isso propício a mudanças políticas à esquerda, a dinâmica que se anuncia acontece precisamente à direita. Sinal dos tempos de agonia moribunda em que alguma esquerda europeia está mergulhada.

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