sexta-feira, 23 de março de 2018

O PRIVILÉGIO DE IR OUVIR BOB DYLAN


Quase duas horas a ouvir Bob Dylan – vinte temas e dois encores – não deixou de ser quite a moment. Num “Altice Arena” cheio – cerca de 13 mil pessoas mais o Presidente da República –, o Nobel da Literatura foi igual a si próprio em tudo, das surpresas do alinhamento ao estrito posicionamento atrás de um piano de cauda, do completo abandono da guitarra ou da gaita de beiços ao seu implacável silêncio perante o público, da notável metamorfose com que apresenta e torna quase irreconhecíveis muitos dos seus grandes êxitos à imensa qualidade de todo aquele maravilhoso ecossistema em que impera uma voz sempre inconfundível. Já a caminho dos 77 anos, prosseguindo o seu “The Never Ending Tour” – já quase 3000 concertos! – e abrindo uma nova digressão europeia, Dylan foi competente, esteve acompanhado por cinco excelentes músicos, concedeu-nos bons motivos de prazer, encantamento e revivalismo e apenas não quis – como raramente quer – permitir ao público explorar, para lá dos mínimos que tolera, a cumplicidade, a admiração e o fascínio que sente em relação a ele...

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