(Theresa May e os Brexiters
procuram desesperadamente aguentar-se no balanço numas negociações em que pedras
no sapato imprevistas se sucedem. Até agora, o posicionamento dúbio
do Labour sobre o Brexit não tem provocado grandes dores de cabeça aos Conservadores,
em linha com a queda eleitoral dos Trabalhistas desde as últimas eleições. Mas
Corbyn parece ser um corredor de fundo e uma nova jogada anuncia-se como fortemente
constrangedora para o governo de May.
Já se percebeu que o
tema Irlanda do Norte é um grande pedregulho no sapato de Theresa May, mesmo
que este tenha sido já fabricado de modo a combater o efeito joanete. O contexto
era previsível. Mas há dúvidas fundamentadas de que os Brexiters tenham antecipado o assunto. Estando a República da
Irlanda de pedra e cal na União Europeia, uma saída do Reino Unido sem atender ao
caso específico da Irlanda do Norte, provocaria o efeito de fronteira, não só
lesivo da fluidez de relações económicas, comerciais e de pessoas entre as duas
Irlandas, como suscitaria o regresso a tempos que as duas sociedades querem esquecer.
Por isso, o tema Irlanda do Norte tem emergido nas negociações como ponto-chave
dos últimos encontros entre o governo de May e os negociadores da União.
É claro que num cenário de
permanência do Reino Unido na união aduaneira e no mercado único dos bens eliminaria
esse problema.
O problema é que Theresa
May, obcecada por manter os Brexiters no
seu sítio, não lhes oferecendo temas de bandeja para o seu ressurgimento, tem
evitado a todo o custo essa discussão, remetendo-o para depois da consumação da
saída. Até há bem pouco tempo, o Labour tem-lhe feito o serviço de não
precipitar essa questão. Porém, há dias, Corbyn movimentou-se no sentido de favorecer
a discussão no Parlamento até 2019 da possibilidade do Reino Unido de permanecer
na União Aduaneira, resolvendo o problema específico Irlanda do Norte e não
comprometendo o resultado do referendo a favor do Brexit. Ou seja, o Parlamento
pode ter de pronunciar-se sobre o assunto antes de ser consumada a saída da União.
Não imagino que posição
irá o Labour defender nessa discussão. Mas qualquer que seja o desfecho dessa
contenda e tendo bem presente o tema Irlanda do Norte, a verdade é que Theresa
May deixou de controlar todo o timing político com que a sua estratégia de
negociação e de discurso para o interior foi concebida.
Não posso deixar de
recordar aqui a campanha serena e rigorosa de Simon Wren-Lewis em defesa dessa
permanência na união aduaneira como mal menor de uma decisão desastrada. Nem
sempre o discurso caro e fundamentado dos economistas cai em saco roto. Este não
caiu (link aqui).
Sem comentários:
Enviar um comentário