quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

16 DÓLARES POR DIA

 


(Em tempos de progresso tecnológico rápido e intenso, que não impediu a revelação da vulnerabilidade do mundo a uma pandemia, os últimos números trabalhados por Max Roser do OurWorldinData anunciam que o rendimento global médio do mundo era em 2017, descontando as diferenças de níveis de preços entre os países, de 16 dólares dia. Num mundo hipoteticamente equitativo seríamos todos pobres. Ou seja, os efeitos globais do progresso técnico são ainda muito incipientes.)

Claro que a outra face da medalha implícita no número avançado por Max Roser (link aqui) é a profunda desigualdade que prospera numa grande maioria de países. Como sabemos desde os poderosos trabalhos de Branko Milanovic, a evolução da desigualdade nos países não está necessariamente em linha com a desigualdade mundial, aquela que se calcula admitindo que os indivíduos não têm país, confrontando os seus rendimentos independentemente de onde nasceram ou trabalham. Aliás, segundo os trabalhos do economista sérvio radicado nos EUA, essas desigualdades estavam a revelar antes da pandemia um comportamento divergente. A desigualdade por país estava em crescimento acentuado, sobretudo em algumas economias avançadas (EUA e Reino Unido, por exemplo), ao passo que a desigualdade a nível mundial estava a melhorar.

Esta última evidência era essencialmente explicada pela redução da pobreza que a globalização tinha conseguido trazer em alguns países e pelo crescimento do rendimento observado em alguns países asiáticos fortemente exportadores de manufaturados que estavam na base da melhoria de posição do que poderíamos chamar a classe média mundial.


Os últimos números conhecidos do trabalho de Milanovic respeitavam ao período de 2008 a 2013 e revelavam, como se pode observar no gráfico acima, uma redução da desigualdade por continente e uma melhoria do rendimento médio global, à paridade de poder de compra, sobretudo na Ásia.

Tudo indica que o impacto da pandemia terá interrompido essa evolução, atendendo aos efeitos sobre a desigualdade que a incidência pandémica está a provocar e, sobretudo, antecipando a fortíssima e indecorosa desigualdade no acesso às vacinas, que condicionará e de que maneira a recuperação económica.

Mas o que importa concluir é que, apesar das melhorias identificadas por Milanovic no pós-Grande Recessão de 2008, o rendimento médio global à paridade de poder de compra era em 2017 apenas de 2017. Isso mostra a claríssima subutilização do conhecimento e da tecnologia disponível para assegurar em média melhores condições de rendimento e de vida. Os frutos da distribuição do progresso tecnológico e do conhecimento não chegam a todos.

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