sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

CHICK COREA

Morreu Chick Corea, ficam por aí gravadas as suas inúmeras e inolvidáveis manifestações de virtuosismo e absoluta beleza. Em termos muito pessoais, aquelas remetem para vários momentos de plenitude e intimidade, sobretudo daquela mais profunda (quando não dolorosa). Mas também levam a que a memória recupere certos factos bem arquivados, como aquela muito antiga resposta de um amigo conhecedor (José Nogueira) quanto à sua escolha de intérprete jazzístico (precisamente o Chick Corea), uma noite inesquecível no “Blue Note” (talvez 2004) ou aqueles concertos de 1992, 2006 e 2007 (falhei 2015, quando veio com Herbie Hancock), respetivamente com a sua Elektric Band, com Gary Burton (na Casa da Música) e a sós com o piano (no Coliseu do Porto).

 

Estando longe de me considerar um especialista musical e do género em causa, antes apenas um singelo amante, beneficiei nos últimos quase cinquenta anos da companhia permanente de Chick Corea. Possuo espécimes múltiplos e expressivos das diferentes fases da sua prolífica carreira, que fui acumulando à medida que a sensibilidade o ia reclamando e que as sobras mensais o foram permitindo. E assim o fui ouvindo frequentemente, quer quando acompanhava Miles Davis no final dos anos 60 (em clássicos históricos como Bitches Brew ou In a Silent Way) ou colaborou com Sarah Vaughan e Dizzie Gillespie quer quando foi acompanhado por Anthony Braxton, Dave Holland, Stan Getz, Al Di Meola, Wynton Marsalis, John McLaughlin e tantos outros.

 

Do jazz mais tradicional ao jazz de fusão (Return to Forever) ou ao jazz acústico – e sempre disponível para um alargamento de horizontes em encontros com outras linguagens (do rock à música clássica, passando por influências latinas diversas), sempre capaz de compatibilizar convencionalismo com improviso, experimentalismo e até algum vanguardismo, sempre enquadrado por incontáveis colaborações, projetos e grupos –, o meu preferido pianista e teclista Chick Corea ainda acaba por ser o que emerge de modo aparentemente mais despojado nos álbuns a solo (como um dos primeiros, datado de 1968, Now He Sings, Now He Sobs ou os Piano Improvisations do início dos 70 ou o Solo Piano  Portraits de 2014) e em alguns duos (como o relativamente recente Duet com a pianista japonesa Hiromi Uehara).

 

Este fim de semana, acho que vou mesmo ter que voltar a estar com o Chick Corea...

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