O primeiro-ministro em exercício Giuseppe Conte foi imprevistamente barrado por Matteo Renzi, o estranho primeiro-ministro do Partido Democrático que se “suicidou” em 2016 e não mais descansou até que conseguisse voltar à boca de cena (mesmo que imprudentemente, como foi agora o caso, e que tendo para tal que constituir um novo partido, o “Italia Viva”).
Conte esteve dois anos e meio e surpreendeu. De facto, saiu bastante melhor do que se previa, tendo-se mostrado muito mais do que um mero tecnocrata e até senhor de um grande jogo de cintura ao liderar dois governos completamente diferentes (o Conte I com forte influência da extrema-direita de Salvini e da Liga Norte e o Conte II através de uma coligação entre o Partido Democrático e um recuperado “Movimento 5 Estrelas”) e tendo sido decidido e decisivo na negociação europeia do que viria a ser o “Next Generation EU”. Mas não pôde resistir à desmedida e irracional ambição de Renzi.
O experiente Presidente da República, Sergio Mattarella, acabou por compreender que tinha em mãos um bico de obra e, quando Salvini já exigia eleições antecipadas, tirou da cartola um coelho altamente consensual, Mario Draghi. Ainda não é certo se este vai lograr constituir um governo que obtenha o imprescindível apoio parlamentar, embora tal pareça provável (os jornais desta manhã assim indiciavam, entre um “a Itália viaja para um Governo Draghi”, um “Governo, toca a Draghi” e um “a hora de Draghi). A narrativa evoluiu, entretanto, para a ideia da constituição de um “Governo de Emergência” (a exemplo, algo mal comparado, do Governo Monti dos tempos da crise, que aliás apenas durou menos de um ano e meio de finais de 2011 a abril de 2013), somando à complexa dimensão política pré-existente e depois potenciada por Renzi a gravíssima questão pandémica e a péssima situação económica (ver, abaixo, três áreas nucleares disso bem demonstrativas, a saber: a falta de crescimento económico, fazendo da Itália uma espécie de “japonificação europeia”; a enorme dívida pública, apenas a quarta maior do mundo; a quebra de produtividade no médio prazo mais recente, traduzindo um problema estrutural maior e largamente por enfrentar). Dito isto, e se Draghi vier mesmo a formar governo, podemos esperar dele competência, voluntarismo e coragem (tal como evidenciou ao comando do BCE), o que já será excelente, mas não magia – Giannelli explicitava-o hoje na sua vinheta do “La Sera”, pondo na sua boca a brilhante tirada de que “sou Draghi, não Mandrake”...
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