quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

DITADORES

(Morten Morland, http://www.thetimes.co.uk)

(Morten Morland, http://www.thetimes.co.uk)

Andam nas páginas dos jornais destes dias dois revoltantes acontecimentos internacionais recentes: na Rússia, a prisão do regressado e corajoso opositor de Putin, Alexei Navalny, quase imediatamente seguida da sua condenação liminar e injustificada a três anos e meio de cadeia; em Myanmar (antiga Birmânia), a volta dos militares e o afastamento com prisão de uma primeira-ministra Aung San Sal Kyi que, apesar de vir protagonizando atitudes dececionantes em matéria de direitos humanos, não deixava de ser uma líder democraticamente eleita. Aqui lavro o meu protesto, mesmo que conscientemente o reconheça acessório e apenas solidariamente simbólico, também porque apenas relativo a duas de tantas situações em crescendo num mundo onde a arbitrariedade e a força do poder ganham prevalência sobre a liberdade, a justiça e o bem-estar dos povos.


(Felipe Hernández, “Caín”, http://www.larazon.es)

 

E é assim que escolho, de entre esses tantos outros ditadores espalhados pelo mundo, trazer aqui de novo dois dos mais insensíveis na sua ambição de poder absoluto: Maduro, na Venezuela, um primário corruptamente sustentado pelos militares e totalmente alheio ao sofrimento e à fome do povo que diz servir; Erdoğan, na Turquia, um autoritário na frente interna e um sanguinário na frente externa, sempre ao serviço de um imperialismo regional (não confundir com segunda ordem) cuja perigosidade no plano internacional e europeu está longe de estar devidamente avaliada por quem pode e deve, na hipótese mais benigna, ou é forçadamente subavaliada por jogos de interesses tão claros quanto obscuros (vejam-se as aproximações bilaterais dos grandes países europeus, designadamente Berlim, Paris e Londres, e os recorrentes ensaios no sentido de que a Turquia tenha assento legitimado em Bruxelas), na hipótese mais nociva.


(Brandan Reynold, https://www.businesslive.co.za e Enrico Bertuccioli, https://www.toonpool.com)

Refira-se, por fim, que o “Índice de Democracia” anualmente estimado pela “Economist Intelligence Unit” revela bem o caráter dominantemente autoritário ou não democrático prevalecente no mundo, além de uma tendência descendente que atingiu em 2020 o pior resultado de sempre. O índice integra 167 países, classificados através de 60 indicadores entre regimes autoritários (com gradações), regimes híbridos, democracias com falhas e democracias plenas. Os resultados são interessantes, múltiplos e variados e merecem uma observação detalhada que aqui não faremos por excessiva; ficámo-nos por três registos: (i) mais de um terço dos países (57) são considerados dentro dos regimes autoritários, valor que se aproxima dos 55% (91) quando somados os regimes híbridos (onde cabem, só para melhor entendimento do que está em causa, países como a Turquia, o Paquistão, o Haiti, a Guatemala, a Nigéria, a Costa do Marfim, o Quirguistão ou o Líbano); (ii) existe uma notória diferenciação regional dos outcomes do índice, com a Europa Ocidental e a América do Norte a surgirem no extremo oposto do Médio Oriente, Norte de África e África Subsaariana (com 40 países a figurarem como detentores de regimes autoritários), apresentando a Europa de Leste, a América Latina e a Ásia e Australásia situações intermédias; (iii) os irredutíveis campeões da democracia são oito: Noruega, Islândia, Suécia, Nova Zelândia, Finlândia, Canadá, Dinamarca e Irlanda. E, já agora, Portugal partilha o 25º posto com a Estónia.

 

(a partir de https://www.eiu.com)

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