domingo, 14 de fevereiro de 2021

VINDE A MIM!

(Joe Cummings, http://www.ft.com)

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it) 

Está constituído e empossado o Governo Draghi. Um extraordinário caso de estudo, mesmo sabendo quanto a Itália nos habituou a constituir-se e apresentar-se como um verdadeiro laboratório político-social. Imaginem só: Draghi consegue a façanha de juntar seis forças políticas, com ideários que vão (iam?) da extrema-direita a uma esquerda alternativa, e de assim congregar através de quinze “ministros políticos” o apoio de personagens de convivialidade tão improvável como Salvini e Berlusconi, Zingaretti e Renzi ou Beppe Grillo e Giuseppe Conte, para além de um conjunto não desprezível de oito “tecnocratas” (por definição, gente com pensamento próprio ou mania disso). “E o distanciamento?”, pergunta o sempre perspicaz Altan.

 

Claro que sempre poderemos admitir que não se trata de todo de casamentos amorosos, antes de um somatório de diferentes interesses de ordem pessoal e política (por esta ordem), que apenas a superlativa força de Mario Draghi levou a que tal se impusesse a todos e cada um (num tempo record, aliás, desde que aqui anunciei a sua designação com o post “Whatever Draghi” de 4 do corrente – junto mais abaixo alguns grandes títulos jornalísticos dos grandes marcos e acertos dos dias entretanto transcorridos e as vinhetas com que Giannelli foi acompanhando a rápida evolução dos acontecimentos – e, ainda assim, num tempo suficiente para contemplar reconversões tão miraculosas como a de um Salvini repentinamente tornado um fiel europeísta) e que também o “estado de necessidade” terá feito a sua parte (a economia italiana está numa situação desastrosa, como aqui por diversas vezes temos procurado evidenciar).

 

Mas é este precisamente o ponto que aqui quero sublinhar: sem quaisquer juízos de intenção e oxalá me engane, o “saco de gatos” é de tal ordem que não parece augurar um futuro radioso à squadra de 23 ministros (sendo mulheres apenas 8 e ninguém se tendo preocupado muito na crítica a jobs em excesso) que começou ontem a liderar os destinos do “país da bota” (neste como em qualquer caso, é sempre curiosa a observação detalhada a fórmula de composição adotada, traduzindo as mais das vezes idiossincrasias pessoais ou nacionais respeitáveis mas nem sempre facilmente entendíveis – aqui, Draghi não inventou rodas de maior, apesar de a divisão entre ministros com e sem pasta ter o seu lado intrigante; esta opção surge tanto mais carecida de concreto quanto há ali uma manifesta e certamente explicável aparência de sobreposições, sendo melhor exemplo o da presença com pasta de ministros da Economia, do Desenvolvimento Económico e do Turismo a par de ministros sem pasta em áreas de Inovação Tecnológica, Assuntos Regionais e Sul e Coesão).

 

Indiscutivelmente desafiantes, e portanto a todos os títulos imperdíveis, serão os próximos anos (ou meses?) da política transalpina – tem tudo para correr mal mas também conta como a hábil genialidade de Draghi (que só não direi que voltará a estar à prova por se tratar de matéria em que o agora primeiro-ministro já provou mais do que o que tinha que provar, em competência e coragem, à frente do Banco Central Europeu) para empurrar no sentido de que possa correr bem...




(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it e Francesco Tullio Altan, http://www.repubblica.it)



(cartoons de Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

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