Agora que parece que alguma histeria (política, técnico-científica, jornalística, cidadã) tende a ir sendo minimizada (que nunca afastada, obviamente!), o que já não era sem tempo, e num momento em que os números pandémicos estão finalmente a dar sinais de quererem baixar, importará que daqui vos diga – embora do alto da minha reconhecida ignorância na matéria – que isto ainda está para lavar e durar.
É, pois, mais do que tempo de que nos esforcemos por adquirir uma nova maturidade em relação ao modo como olhamos para o desgraçado assunto que nos assola, sob pena de infernizarmos a nossa vida e a dos nossos próximos e de assim criarmos outros problemas (ou pior) em cima daqueles que já temos e para a resolução dos quais somos substancialmente impotentes. Dito isto, não duvido um segundo de quanto alguns dos que têm a atenção de nos acompanhar neste espaço possam achar que me estarei, com estas tão prosaicas palavras, a assemelhar ao velho La Palisse – o que aceito de bom grado mas... so what?
Sim, porque a solução de cada um está mesmo em confinar o máximo que esteja ao seu alcance (dois dias de algum sol já puseram hoje alguma gente a voltar a atropelar-se à beira-mar ou à beira-rio!), cumprir escrupulosamente as regras de saúde pública e demais determinações e procurar adotar formas pessoalmente úteis de ir vivendo a vida. Não é o que nos resta, na verdade, quando Marta Temido nos vem honestamente confessar o seu “receio de que isto não acabe”, quando as estirpes do vírus começam a perceber-se potencialmente infinitas, quando os produtores de vacinas não estão a querer contribuir para o cumprimento dos calendários estabelecidos e quando a dupla jornalístico-política vive cada vez mais notoriamente num planeta feito de irrealismo e conspiração?
E depois – quem sabe ou quem pode afirmar o contrário? – até pode ser que, de repente e sem mais aquelas, o vírus se canse, com ou sem algum grau de imunidade de grupo a ajudar...
Uma nota final, talvez curiosa: aproveitei para fazer umas contas que nos permitem fazer um balanço etário da pandemia aos mais de 780 mil casos e 15 mil óbitos registados. Algumas perceções mais salientes: (i) mais de dois terços das mortes ocorridas aconteceram nos “mais de 80 anos” (quase 88% nos “mais de 70 anos”); (ii) mais de 15% dos casos confirmados saldaram-se por mortes na população acima de 80 anos; (iii) em relação à população total, a faixa de idade superior a 80 anos já foi atingida a quase 10% (quase 15% nos “mais de 70 anos”), embora “apenas” tenha falecido uma percentagem de 1,5% dessa população; (iv) o número de casos é cada vez mais dominante nas camadas jovens da população (cerca de 44% até aos 40 anos), embora as fatalidades sejam aí praticamente irrelevantes (mas há que ter cuidado com as novidades trazíveis pelas estirpes em afirmação). Aqui fica o exercício.
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