segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

RESCALDO CATALÃO


Como já aqui bem referiu o António Figueiredo, as eleições na Catalunha saldaram-se por um vira o disco e toca o mesmo. Ainda assim, três curtos apontamentos adicionais. Primeiro, e tópico mais relevante, as mais prováveis (o que não deixa de significar altamente custosas) soluções governamentais, entre uma primeira e menos apostável hipótese de o vencedor PSC (Salvador Illa) conseguir acordar com a independentista Esquerra Republicana e obter o complemento do Em Comú Podem (Ada Colau) e uma segunda e também difícil hipótese de Pere Aragonés (ERC) conseguir pactar com a restante dupla independentista (Laura Borràs, Junts per Catalunya e Dolors Sabater, CUP). A chave do puzzle está no partido do “preso político” Oriol Junqueras que, pela primeira vez em mais de oitenta anos, saiu à frente dos independentistas mais moderados.

 

Segundo, e goste-se mais ou menos, ficou claríssimo quanto o independentismo está enraizado (ultrapassou mesmo os 50%) e tem por isso de merecer um tratamento verdadeiramente sério por parte da governação central. Terceiro, e por falar em implantação, o mapa mais abaixo (indicando o partido mais votado por município) a evidenciar quanto a mancha maior provem do Junts (que foi a terceira formação mais votada), quanto a mancha do partido mais votado é localizada e mais citadina, quanto ainda subsistem alguns focos de “resistência” da velha Convergència y Unión (agora com Artur Más e sem ter logrado qualquer representação), quanto é igualmente pontual a dominação da extrema-esquerda independentista e, finalmente, quanto poderá ser interessante uma passagem pelo município de Gimenells i el Pla de la Font (comarca de Segrià, província de Lérida) para conhecer in loco os possíveis fundamentos explicativos da irredutibilidade quase gaulesa dos seus habitantes em favor de um Partido Popular que só ali ganhou e que foi perdedor em toda a linha ao ser retumbantemente ultrapassado pela extrema-direita do Vox.

 

Falar de um “lio suicidário” instalado é certo, mas uma caraterização da situação fica decerto igualmente carente de que se lhe acrescente algo mais do que a mera ideia de uma “Espanha que não está para moderados” (eu também vi ontem a TVE e aquilo não são as nossas noites eleitorais!). Porque, de novo e como em tantos outros casos históricos ou do presente, é a responsabilidade do socialismo democrático que está na berlinda e nada parece sugerir que o grupo venha a estar à altura de evitar coisas feias.



(Idígoras y Pachi, http://www.elmundo.es)


(a partir de https://www.elmundo.es)

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