domingo, 28 de fevereiro de 2021

PLANEAR NÃO OFENDE(RIA)



Termina amanhã a consulta pública do nosso PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e, quer para aqueles que quiserem perceber como estas coisas (não) funcionam em Portugal quer para os crentes inveterados nos benefícios da consciência limpa e da participação cidadã, talvez não seja má ideia de todo a de dispensar uns minutos a folhear o documento e, em cima dele, a ponderar sobre o que o Governo está a propor à sociedade portuguesa.

Enquanto os “suspeitos do costume” vão enchendo as páginas dos jornais com os seus maravilhosos projetos, o “Expresso” deste fim de semana trazia sobre o dito PRR dois artigos interessantes, tanto pela sua diferença (entre um analista de formação económica e uma colunista assumidamente não especializada na matéria) como pela sua semelhança (bem manifestada no ceticismo com que ambos encaram a vinda de um “dinheirinho” que veem destinado a servir mais como alimentador ou compensador de despesa do que como promotor de investimento e transformação). No decorrer da semana, vários foram também os articulistas que se pronunciaram publicamente sobre a matéria, entre um incompetente espanto perante “tanto dinheiro” e uma despreocupada preocupação sobre quem acederá ao mesmo (ou, até, apenas a míseros quinhões) e o que fará com ele; com o “Expresso da Meia-Noite” a dedicar-lhe o seu tema central (na presença de uma ministra da Coesão Territorial que ficamos sem perceber o que o tem a ver ao certo com um domínio que está entregue ao seu colega do Planeamento, acompanhada pelo crítico porta-voz do PSD Miranda Sarmento, pelo omnipresente mas arguto António Nogueira Leite e por um inconsequente associativista empresarial); mas acabou por ser João Miguel Tavares (no “Público”) quem melhor veio deixar mais um alerta, feito de um genuíno interesse intelectual, quanto a viciações em fundos, a perpetuações de modelos inviáveis e a anestesias políticas úteis no horizonte.

 

E basta por hoje, até porque eu tenho de ir fazer a minha parte de cidadão exemplar. Depois, com mais tempo, cá voltarei ao assunto.



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