segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

BIDEN WINDS

 

                                    (Bears ears National Monument - UTAH)

                                    (Grand Staircase - Escalante National Monument - UTAH)

(A entrada em cena da administração BIDEN desanuviou o ar americano, mesmo depois e por trágicas razões ele se ter tornado menos tenso com a paragem imposta pela pandemia. O conjunto de medidas que o novo presidente assinou nas suas duas primeiras semanas de Casa Branca teve o condão de expressar que a administração americana fez o reset reparador, abrindo uma nova série. O contributo americano para o inferno climático em que estamos mergulhados parece agora poder ser bloqueado, mas convém não esquecer a eventual irreversibilidade dos danos.)

            Curiosamente e embora não partilhe o ar americano, o mundo parece respirar melhor, apesar da pandemia, como se os Biden winds vindos de oeste nos ajudassem a respirar melhor. Obviamente que, mesmo na questão pandémica, o ar mais convicto com que o Dr. Fauci transmite a sua mensagem em matéria de gestão da pandemia e agora da vacinação anuncia que os tempos são outros e que a interlocução na Casa Branca dá outra confiança ao amargurado, e desprezado por Trump, virologista americano.

Mas não é sobre a gestão da pandemia que quero analisar a importância dos Biden winds. É verdade que sou dos que pensa não estarem ainda totalmente compreendidos os laços entre a crise pandémica e a crise ambiental. Por um lado, o excesso de emissões e a degradação da qualidade do ar em muitas cidades, não só dos EUA, mas por todo o mundo, estão longe de ser totalmente desprovidos de influência no favorecimento de contágio por disseminação de aerossóis. Por outro lado, o efeito dos confinamentos mais ou menos duros sobre a redução de emissão de gases com efeito de estufa está também longe de estar plenamente estudado e ajuda-nos seguramente a reconsiderar o equilíbrio necessário entre a influência do abrandamento e sobretudo a reconfiguração do modelo económico. 

Os novos ventos que emanam da administração americana são também esperançosos do ponto de vista do envolvimento dos EUA na mitigação e, porque talvez está já não chegue, no combate frontal e sem tréguas à emergência climática.

A sempre perspicaz e direta Elizabeth Kolbert (The New Yorker) (link aqui) tem a meu ver razão quando refere que a primeira semana de Biden fez o mais fácil, repor as coisas noutra trajetória, recuperando a que vinha do passado antes de Trump. Reatar os compromissos dos EUA com os acordos de Paris, revogar a autorização para a construção do pipeline para a indústria do petróleo, restaurar as proteções aos monumentos simbólicos dos Bears Ears e do Grand Staircase -os projetos simbólicos no estado do UTAH do Bears Ears e do Grand Staircase - Escalante, suspender autorizações para novas extrações de petróleo e gás, lançar o programa de emprego Civilian Climate Corps destinado à restauração de terras e águas públicas, a compra de veículos emissão zero para a administração federal e medidas para suspensão de subsídios à energia fóssil são obviamente medidas importantes para marcar que o reset é para valer.

Mas como Elizabeth Colbert o vinca e bem no artigo atrás referido, o prosseguimento da batalha após esta mudança de ventos vai exigir uma longa ofensiva legislativa. Estima-se que os EUA estejam cerca de 30 anos atrasados na sua estratégia de redução de emissões, o que aponta para milhares de milhões de toneladas de dióxido de carbono a erradicar. Ora, no tempo da administração Trump, o desconchavo e o despudor chegaram a um ponto que clima, alterações e emergência climáticas eram palavras proscritas de qualquer deliberação ou texto legislativo. E Colbert traz um número que me bateu forte: o ano de 2020 com pandemia significou apenas a redução de 6% nas emissões face ao ano de 2019. Não desconheço que o negacionismo climático trumpiano terá influenciado o caráter pífio desta redução imposta pela pandemia. Mas ele também revela a dimensão e caráter ciclópico da reconversão dos modelos produtivos nos EUA que a abordagem proativa à emergência climática implicará.

Os incêndios na Califórnia e as sucessivas inundações no Louisiana parecem não querer dizer nada aos negacionistas e sobretudo aos poderosos interesses do mundo fóssil. E não esqueçamos que Trump deixou armadilhado o Supremo Tribunal de Justiça com uma devota e militante de Deus que pode rever-se no sacrifício climático para espiar sabe-se lá que culpas atormentam a sua consciência traumatizada.

Sopram ventos mais amigáveis com a entrada de Biden mas os grandes interesses em torno do negacionismo climático vão agora erguer-se e jogar tudo por tudo para preservar o status quo.

Mas que grande batalha está em vias de começar.

 

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