terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

NÃO FOI E NÃO É BONITO...

(Peter Schrankhttp://www.economist.com) 

Como se esperava, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia reuniram ontem, sob a égide do nosso Augusto Santos Silva, e decidiram-se pela aplicação de mais sanções contra a Rússia. Parece bem, ainda que apenas sirva para limitar publicamente os danos de imagem que resultaram da imprudente e desastrosa visita do Alto Representante para as Relações Externas, o comissário espanhol Josep Borrell, a Moscovo. Do que nitidamente se percebeu pelas notícias vindas a lume, a velha raposa que preside à diplomacia russa, Serguei Lavrov, fez gato sapato de um político veterano mas algo inexperiente na matéria; Lavrov chegou ao desplante de se referir à União como um “parceiro não confiável”, de formular um irónico voto no sentido de que a União Europeia possa focar-se nos seus interesses “para que os nossos contactos possam ser mais construtivos nos futuro” e, citando a “Politico” de se dirigir ao espanhol nos seguintes e inqualificavelmente provocatórios termos: if you could just change into the clown costume, Josep, then we can carry on with the press conference. Depois disto, só porque Bruxelas não pratica propriamente remodelações é que Borrell se segurou no cargo, não sem ter passado duas semanas a ver a sua credibilidade literalmente achincalhada por tudo e todos.

 

O que este incidente demonstra estende-se, pelo menos, por três planos de significativa relevância: a forma como são escolhidos os “ministros” (comissários) da União, largamente desligada de currículos pertinentemente avaliados para a função concreta que lhes vai ser consignada; uma ordem internacional que cada vez mais deixa a desejar quanto às condições de intervenção dos players democráticos e de boa fé em relação aos autocráticos e capazes de se posicionarem de acordo com conveniências muito próprias e pouco ou nada escrutináveis; e, acima de tudo, a crescente imperiosidade de que a política externa europeia (incluindo a dimensão central dos direitos humanos) seja objeto de uma definição urgente e precisa das suas grandes linhas estratégicas (“uma bússola”, como alguém disse por estes dias), o que só não acontece porque tal esbarra de frente com a presença de outros e superiores interesses, nacionais bem-entendido.

 

Entretanto, e obviamente, Navalny irá continuar a cumprir uma injusta sentença de prisão de três anos e meio e os nossos dignatários irão prosseguir as suas “ameaçadoras” e quase destituídas de objeto conferências de imprensa, ao mesmo tempo que um estado de necessidade irá obrigar alguns dos seus pares a procurarem intensificar as suas aproximações facilitadoras da autorização e compra da ex-maldita Sputnik V.


Sem comentários:

Enviar um comentário