Os 100 anos do Partido Comunista Chinês, celebrados esta semana, proporcionaram às autoridades do país uma ocasião ímpar para exibirem como real a sua força (nem sempre percebida como tal face às inúmeras contradições internas que jazem debaixo dos tapetes). Muito simbolicamente em Tiananmen (a denominada Praça da Paz Celestial), Xi Jinping falou em “auge irreversível” e numa consolidação inexorável da “grande potência mundial” que a China já é com vista a uma “supremacia mundial”, mas não esqueceu a lembrança das penosas décadas de transformação sofridas por um país paupérrimo que se “levantou” sob a liderança de Mao Zedong nem o papel “insubstituível” do partido, quer nesse facto quer para a concretização daqueles que agora antecipa. Como não evitou ainda uma referência às “ameaças” à soberania nacional (Hong-Kong, Taiwan, Xinjiang) nem um escaldante “aviso” às forças estrangeiras (com os Estados Unidos a serem os principais destinatários) que intentem qualquer ato contra o país (chegou mesmo a proclamar que “quem quer que o intente enfrentará um banho de sangue perante a Grande Muralha de Aço construída por 1400 milhões de chineses!”).
Os especialistas dividem-se sobre o significado desta tentativa de prova de força. Para uns, ela não passou de uma manifestação de que a melhor defesa é o ataque, ou seja, perante um conjunto de razões que apontam para um questionar do regime e da sua estabilidade (das questões da ausência de democracia, bem visíveis em Hong-Kong, às diversas panelas de pressão internas, passando pelas alegadas responsabilidades na pandemia) Xi quis marcar o terreno e transmitir confiança e segurança em relação aos caminhos em curso. Para outros, e independentemente de alguns pontos fracos, o poderio chinês é uma realidade e os próximos anos irão efetivamente conhecer o seu recrudescimento (na linha do aqui citado “A China já ganhou”), sendo então essencial perceber claramente os traços estratégicos que pontuam o rumo definido por Xi e, sobretudo, que o Ocidente (um termo que necessariamente obrigaria a variadas declinações — desde logo, os EUA e a UE têm lógicas e interesses diferentes, mas também é certo quanto a UE é um “saco da gatos” sem condições para construir uma política externa comum sólida e coerente, sendo o caso nacional alemão a evidência mais óbvia dessa facto) procure modos adequados a com eles conviver ou a eles se ajustar em termos dinâmicos e de afirmação própria. Um tema a que valerá a pena consagrar atenção nos tempos mais próximos.
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