domingo, 18 de julho de 2021

CABRITA PARA TODA A OBRA

 


(Pronto para a retoma do trabalho, algo facilitado pela frescura marítima que nos transporta para a semana, dou comigo a refletir de novo sobre a insistência de Cabrita nas suas peripécias como Ministro e na teimosia de Costa em manter a sua presença no Governo. A situação é mais complexa do que parece e esgotam-se-me as metáforas para descrever situação tão incómoda para todos, agravado pela insensibilidade de Madame Cabrita, perdão Ana Paulo Vitorino, apontada à regulação e “respirando” no seu próprio entendimento independência...)

Não é fácil descrever o que Eduardo Cabrita pode representar para o primeiro-Ministro António Costa. A dificuldade resulta do número tão elevado de peripécias em que Cabrita voluntariamente ou tolhido tragicamente pela falta de piedade dos deuses tem mergulhado.

Por vezes, Cabrita faz-me lembrar aqueles guarda-costas salvadores que levam no corpo sem dó nem piedade para preservar o BOSS. É verdade que neste caso o guarda-costas tem autonomia de decisão e que a maioria das peripécias relatadas são matérias da sua alçada. Mas de qualquer modo a maneira como Cabrita enfrenta temerariamente os acontecimentos acaba por concentrar nele as atenções e por muito que timidamente a oposição queira chegar ao primeiro-Ministro o ar desajeitado do primeiro concentra nele toda a atenção.

Outras vezes, sugere-me aqueles pugilistas auxiliares que substituem o saco de boxe e se prestam a que o campeão ensaie os seus golpes, encaixando golpes em série.

Poderão aqui também existir reflexos de uma lealdade passada quando Cabrita tomou as rédeas do combate aos incêndios após o descalabro de Constança Urbano de Sousa. E estará aí a chegar um agosto impiedoso nas temperaturas e por isso com uma grande probabilidade de incêndios e pandemia se completarem de modo até aqui desconhecido, situação altamente incómoda para uma mudança de liderança na Administração Interna.

São fatores que podem justificar o adiamento de uma substituição, inserida ou não numa remodelação mais ampla do tipo similar à que Pedro Sánchez realizou recentemente em Espanha, já que esse não é hoje o meu ponto.

António Costa terá imaginado outro timing para esse tipo de retoque ou de remodelação governamental, com as autárquicas a funcionarem seja como pretexto ou elemento motor após a sua realização. E embora possamos imaginar que as autárquicas não serão uma passadeira vermelha para o PS, a verdade é que o que se antevê para o PSD servirá de cobertura mediática suficiente para aparar o golpe.

O que talvez António Costa não tenha calculado com rigor é que tantos golpes suportados por Cabrita, completando o desgaste natural da governação em pandemia, e apesar da ajuda proporcionada pela inépcia do PSD, se tenham repercutido mais cedo do que o esperado no seu grau de aprovação pelo eleitorado.

Não sou dos que pense que as sondagens constituam um fator real de aceleração da erosão governativa. Mas não posso ignorar que as lideranças políticas são sugestionáveis pela evidência que as agendas mediáticas lhes concedem, com os assessores políticos mais diretos a representarem os principais fatores de ampliação desse efeito.

Se em relação a Eduardo Cabrita ainda posso fazer o esforço de identificar alguns fatores para justificar a persistente atitude de Costa em manter o seu Ministro da Administração Interna, já o caso da regulação para os transportes com a opção consciente do Governo em propor o nome de Ana Paulo Vitorino representa em meu entender ou um ato de desespero pela ausência de alternativas ou a deliberada tentação de forçar situações para além dos limites do aceitável.

E reservo-me o direito de expressar a ideia de que esta minha posição não tem nada que ver com o facto de Ana Paulo Vitorino ser mulher de Eduardo Cabrita. Em tudo que se conhece da passagem de Ana Paula Vitorino pela governação percebe-se à distância como é difícil imaginar que, por milagre dos deuses. estivesse a ser por essa via construída uma vocação para uma regulação implacável, independente e realmente fiscalizadora da prestação governativa. E não me venham com a balela dos conhecimentos técnicos de tão impetuosa senhora. Sabemos que há diferentes modos de utilização desse conhecimento e também que ser regulador não é compatível com todos os modos possíveis de utilização desse conhecimento.



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