Já ninguém duvida de que Boris Johnson é um político manipulador e de poucos escrúpulos; ou, mais meigamente, alguém cuja coerência não é realmente um ponto forte. Com a agravante de se ter de tal modo envolvido na questão do Brexit (onde chegara a ser um defensor do remain, recorde-se!) que se apresenta hoje obcecadamente antieuropeu, i.e., alegadamente capaz, em todo e qualquer assunto de toda e qualquer espécie, de fazer melhor e de assegurar mais para os seus nacionais do que o que aconteceria se ainda permanecessem sob o abominável jugo dessa maldita, burocrática e incompetente União Europeia.
Dito isto, BoJo não deixa de ser um político dos tempos modernos no sentido de possuir um killer instinct que o leva a arriscar enveredar por caminhos duvidosos e até perigosos — foi o que ocorreu ontem com a sua comunicação “libertadora” (now is right time to end Covid rules ou it’s now or never to lift restrictions) que ou lhe acabará por garantir uma definitiva popularidade nacional e não só (e esta é a sua aposta) ou lhe ditará tempos difíceis a caminho de um final político penoso (se a liberdade cidadã ontem decidida vier a traduzir-se num particular impacto gravoso no que respeita às manifestações decorrentes da circulação e reprodução do vírus).
Veremos o que a “corajosa” (ou irresponsável?) declaração de Boris vai provocar, mas uma coisa é certa: alguma coisa sempre teria e terá que mudar numa fase em que as hesitações e atropelamentos das autoridades europeias e nacionais não parecem já ajustadas ao que a realidade vai fazendo emergir em termos de exigência de uma efetiva liderança perante a visível e tendencialmente explosiva fadiga pandémica e a crescentemente desastrosa situação económica.
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