domingo, 12 de junho de 2022

EUROPA UNIDA E EUROPA DIVIDIDA

Começam a ser cada vez mais claras as divisões intraeuropeias em relação à estratégia a seguir pela União Europeia nesta fase da guerra na Ucrânia, com os grandes países ocidentais a enfileirarem atrás da ideia de Macron de não se isolar Moscovo e de se pressionar uma via negocial e com os países da Europa Central e Oriental a posicionarem-se na esteira da Polónia em defesa de um prosseguimento da guerra até que aconteça uma qualquer derrota ou fragilização russa. E é todo um mar de consequências potenciais que se joga nesta escolha de caminhos, aliás cheios de bifurcações complexas e de multivariada ordem.


(Patrick Lamassoure, “Monsieur Kak”, http://www.lopinion.fr Peter Schrank, https://www.economist.com)

(Peter Schrank, https://www.economist.com e Jerzy Wasiukiewiczhttps://www.gisreportsonline.com)
 

Senão vejamos mais em detalhe: numa dimensão de ordem mais estrutural, é forçoso que se insista em quanto a Europa fez positivamente diferente no modo como enfrentou com decisão e unidade a crise provocada pela invasão russa mas também em quanto são todavia manifestas as suas tremendas debilidades, inultrapassáveis no tempo curto, em sede de segurança e defesa e de dependência energética. Paralelamente, e descendo a um plano concreto e mais (geo)politicamente determinado, o que agora ressalta é a emergência de uma nova face dessa velha ambição macroniana de liderar a Europa (agora facilitada pela relativa fragilidade conjuntural do chanceler alemão mas não deixando de corresponder por isso à abertura de uma caixa de Pandora de efeitos imprevisíveis, tema com outras conexões e impactos futuristas que abordarei em post próximo) e a manifestação de um entretém franco-alemão visando adiar conflitualidades radicais até que algum burro de capa preta possa trazer numa miraculosa bandeja uma resolução satisfatória do dilemático puzzle, tudo isto em contraponto aos visíveis temores de um revivalismo de má memória que assalta polacos, bálticos e outros países geograficamente mais próximos da Rússia (com polacos e húngaros a portarem-se humanitariamente bem e a aproveitarem também a situação para fins de ganhos negociais nos seus pacotes de financiamento internos à União e com o oportunismo de um Boris a braços com dificuldades internas a conduzir o Reino Unido para uma linha que dá força a esta linha de orientação). Ou seja, aproximamo-nos nitidamente de uma verdadeira situação de catch-22, e tanto mais preocupante ela é quanto nenhuns sinais em presença nos permitem adiantar perspetivas que não sejam marcadas por um pessimismo tendencialmente profundo.

 

(Peter Schrank, https://www.economist.com)

(Peter Schrank, https://www.economist.com e Kevin Kallaugher,”Kal”, https://www.cartooningforpeace.org)

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