(Toda a gente percebeu que o PSOE na Andaluzia já era. Ancorado numa maioria de governo regional com o CIUDADANUS e o apoio de nariz tapado do VOX, o PP de Juanma Moreno, e de Feijoo, conseguiu apagar a longa presença do PSOE na governação e apresentou-se a estas eleições com um desafio-cutelo sobre a sua cabeça, ganhar de modo a contornar a chantagem política do Vox que exigia presença no governo regional. Ninguém imaginaria, porém, que o fizesse com maioria absoluta, com 58 deputados regionais, mais três do que a maioria absoluta de 55 lugares. Ou seja, com um resultado que matou de uma assentada vários coelhos: devolveu o PSOE a uma derrota histórica e ao seu mais baixo resultado na Andaluzia, prescinde do VOX para formar governo, que teve um aumento pífio de 2 lugares no Parlamento Regional, de 12 para 14 e assim sacrificou a sua mais mediática estrela Macarena Olmo e remeteu a esquerda nacionalista do Por Andalúcia, 5 deputados, e de Adelante Andalúcia, 2 deputados, a uma expressão residual. Conseguir tudo isto com um candidato centrista, moderado, liberal e ao estilo de Feijoo é obra e dá um profundo impulso à política espanhola. Para além disso, mata implacavelmente a tese de Sánchez segundo a qual o PP não seria capaz de viver sem os apoios eleitorais do VOX, afirmando-se o PSOE como o único garante dessa barragem.)
Ninguém imaginaria que fosse uma região como a Andaluzia, durante tantos anos identificada pela direita espanhola como a materialização da reprodução do poder socialista, a protagonizar o impulso de mudança que o PP necessitava para se afirmar definitivamente no e pelo centro moderado, conter as diatribes de Ayuso ao ecossistema da Comunidad de Madrid e esvaziar o balão do VOX de Abascal.
Mas a verdade é que estamos perante um impulso dessa natureza, que como dano colateral esvaziou de vez o CIUDADANUS que perdeu a módica quantia de 21 deputados, desaparecendo no mapa político andaluz, aliás como sucedera noutras Comunidades Autónomas.
A TVE proporcionou-nos uma cobertura notável do ato eleitoral e das suas profundas consequências, num espírito de grande abertura e diversidade de perspetivas.
Quatro notas essenciais emergiram da noite eleitoral:
- A simplicidade de Juanma Moreno;
- A cosmética explicativa do VOX pela voz da sua agressiva Macarena Olmo que teve a lata da noite ignorando a derrota mais completa da sua chantagem de exigência de presença no governo regional;
- A presença digna e esforçada do candidato perdedor do PSOE Juan Espadas, anunciando a resiliência do partido e da sua equipa para as futuras eleições locais;
- E, por fim, a desfaçatez patética da porta-voz nacional do PSOE, Adriana Lastre, que teve a distinta lata de explicar o êxito eleitoral do PP com a ajuda do governo central de Madrid durante o período pandémico.
A posição assumida pelo PSOE de Sánchez mostra que não está e não vai digerir, com eficácia, a quebra do tabu conseguida com a maioria absoluta do PP na Andaluzia. Em primeiro lugar, o PSOE não pode a partir de agora arrogar-se o exclusivo da barragem democrática do VOX. Em segundo lugar, e bem mais importante, Sánchez parece não compreender que os Espanhóis em geral estão cansados da dependência política que o governo do PSOE tem do apoio de forças imprevisíveis como a Bildu, a Esquerra Republicana e a própria sucessão de poder no PODEMOS. Sánchez já nos habituou a grandes golpes de rins. A sua eventual permanência como partido mais votado em Espanha já não é de golpe de rins que precisa. É de um prodigioso flic-flac artístico e vigoroso que Sánchez necessita e não vejo recursos para tal. Creio que não será artista para tal. Mas recomendo prudência na extrapolação simplista de resultados regionais, por mais importantes que eles o sejam e estes são um verdadeiro tumulto. Dizia um jornalista espanhol que, com este resultado, Feijoo tem apenas um pé na Moncloa. Também acho. Muitas peripécias irão ainda acontecer. Mas se o testemunho da porta-voz Adriana Lastre for mais do que uma simples azia de noite eleitoral, então Feijoo poderá estar com os dois pés na Moncloa e nem precisa de entradas a pé juntos. Por esse caminho, o PSOE cairá por si.
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