(Estou entre os que penso que as metáforas são armas potentes na análise e na luta políticas. Por vezes, essas metáforas dão-nos gozo, pois servem os nossos argumentos de ataque. Outras vezes, porém, são mais dolorosas, pois correspondem a perceções de realidades irreversíveis da história, às temos alguma dificuldade de adaptação. A metáfora de hoje pertence a este último grupo e emergiu de uma notícia de jornal com epicentro em Roma. É uma dura manifestação de tendências inexoráveis que a história nos traz.)
A notícia é cristalina.
Em pleno coração de Roma, comunicam-nos que o Partido Comunista de Itália alugou a sua sede histórica, que será convertida num hotel de luxo, pertencente a uma multinacional do setor, ainda não identificada.
Uma bela metáfora para os tempos de hoje. Não imagino o que sentiriam Togliatti ou Berlinguer ao ver o seu “templo” transformado numa manifestação do acolhimento turístico mais seletivo, depois de tantos anos a marcar o pensamento da esquerda, com um grau de elaboração e profundidade intelectual que hoje nos fazem inveja, dada a boçalidade e vulgaridade do pensamento com que a ação política é concretizada.
Sossega-nos a notícia do jornal dizendo que o estilo arquitetónico da fachada será conservado, a estrela de ouro de cinco pontas e o busto de Gramsci mantidos na nova versão do edifício, que também ironicamente já foi sede da Ernest & Young e da Associação Bancária Italiana.
A mensagem profunda da história no seu esplendor.
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