quinta-feira, 16 de junho de 2022

NUVENS ESCURAS NO HORIZONTE

Estes dias têm conhecido bastante agitação ali para os lados de Frankfurt, com o BCE a sair finalmente da hesitação que o tem caraterizado ao longo de meses quanto à resposta a dar aos riscos inflacionistas para logo de seguida ser obrigado pelos sacrossantos mercados a recuar na sua decisão de abandonar o programa de compra de dívida pública que vinha desenvolvendo desde o célebre whatever it takes de Mario Draghi em 2012. Os jornais espanhóis de hoje, sobretudo esses mas também o nosso “Público” (que apresenta um editorial do seu diretor intitulado “O ligeiro ‘momento Draghi’ de Christine Lagarde” e se continua a afirmar como o nosso diário mais estruturado e consistente), dão conta da essência do que está em causa: para lá das questões internas que se percecionam por razões europeias clássicas e também devido a alguma ausência de experiência e profissionalismo no campo dos decisores (anda por ali, em claro contraste com a FED, algum excesso de nomeações políticas...), chegam mesmo ao ponto de referenciar a possibilidade de uma nova “crise na Zona Euro” com epicentro nas duas grandes economias do Sul (Itália e Espanha) e fortes probabilidades de repiques na Grécia e em Portugal. A situação é séria e, no que nos toca, tenho dúvidas quanto à existência de capacidade técnica e sensibilidade política bastantes para a enfrentar se o pior se vier a manifestar; sendo que, por enquanto, o mais verdadeiramente preocupante está localizado em Itália (os gráficos mais abaixo ajudam a um melhor entendimento disso mesmo, com o nosso velho conhecido Münchau a apresentar um bem sugestivo título, “4%”, no seu “Eurointelligence” de há dois dias), onde a regeneração bancária mal foi feita (ao contrário de Espanha e, em larga medida, de Portugal) e de onde vêm ecos de enormes montantes de NPLs (52 e 96 mil milhões de euros, dependendo dos critérios de medida, foram os números mais recentes a que acedi) e grandes entidades bancárias (como o Monte dei Paschi di Siena e o Carige mas com extensões até ao Unicredit e ao Intesa-San Paolo) em péssimos lençóis e à beira de um potencial colapso. Daqui quero gritar bem alto, na expectativa de que alguém me queira ouvir: a coisa não está nada para brincadeiras e politiquices baratas!



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