terça-feira, 14 de junho de 2022

GRANDE PONTARIA!


Releva verdadeiramente da pontaria a escolha da data em que o nosso primeiro-ministro, saído de uma doença que cirurgicamente serviu para justificar a sua ausência das comemorações do Dia de Portugal lideradas por Marcelo, se deslocou expressamente a Londres para assinar com Boris Johnson um novo acordo relacional entre Portugal e o Reino Unido.

 

De facto, foi hoje mesmo que o primeiro-ministro britânico resolveu dar publicamente a conhecer que iria iniciar o processo parlamentar de aprovação de uma nova lei que alterará elementos-chave (eliminação de grande parte dos controlos aduaneiros e do papel de supervisão atribuído ao Tribunal de Justiça da UE) do sensível e determinante Protocolo para a Irlanda do Norte pactado no quadro do Brexit após negociações dificílimas e muito conflituais ― uma decisão que, decorrendo da necessidade de camuflar os seus problemas internos e de piscar o olho à ala mais eurocética dos Tories, não deixa de ser altamente desafiadora face a Bruxelas e aos inúmeros avisos de lá repetidamente vindos da parte de Ursula e de outros altos dignatários da União. BoJo consuma, assim, as suas repetidas e provocatórias ameaças de enfrentamento e prepara os termos de um ataque à União que pode ter contornos de alguma gravidade em termos comerciais e de litigância internacional.

 

Costa, por seu lado, preferiu fazer-se de morto ao desvalorizar quanto esta visita potencialmente sinalizava falhas na sua proclamada solidariedade europeia, de que aliás sempre tanto se esforça por dar devida nota. Optando por manter agendada a sua ida a Downing Street, o primeiro-ministro deu um passo de timing manifestamente infeliz que a continuidade da sua doença bem poderia ter evitado sem qualquer problema ou risco ― há quem diga que na política não há coincidências e o facto é que, mesmo quando elas parecem marcar presença, os políticos hábeis e menos arrogantemente convictos do otimismo que julgam ser-lhes intrínseco podem sempre agir com naturalidade e bom senso, esvaziando sem reservas o ruído e os seus mais nefastos efeitos pessoais e nacionais.

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