segunda-feira, 13 de junho de 2022

FIQUEM-SE COM ESTA!

 


(O meu filho Hugo postou esta matéria no Facebook acompanhado da seguinte interrogação: “fact or brag? I remain an optimist” (facto ou vangloriamento? Continuo um otimista”). E não é para menos. Os dados do Eurostat colocam Portugal logo a seguir à Dinamarca na percentagem de empresas que utilizam inteligência artificial. Não é por nada mas se há companhia em que gosto de ver a posição de Portugal é precisamente a Dinamarca, por questões de dimensão e sobretudo pelo facto de se tratar de uma economia que construiu uma trajetória de inovação a partir de coisas prosaicas como o mobiliário e o agro-alimentar, desconstruindo a velha ideia de que sem “high-tech” não há trajetória de inovação.)

Já não é a primeira vez que as estatísticas europeias do Eurostat, designadamente o Inquérito Comunitário à Inovação nos oferecem uma fotografia de Portugal mais distendida do que normalmente lhe atribuímos, o que leva muito boa gente a questionar essa informação e a associar-lhe alguma dissonância cognitiva. Tudo se passaria como se as empresas portuguesas tivessem uma certa arte de responder aos inquéritos de base que tornam possível a publicação destes indicadores. Pelo que vou sabendo, não há qualquer evidência de que as empresas portuguesas sejam mais prazenteiras em avaliar a sua própria situação em matéria de inovação do que as suas congéneres europeias. A existir algum enviesamento nesta matéria, o Eurostat atribui-lhe características de transversalidade, comum a todos os países. O que haverá a fazer será então de diversificar indicadores, combinando dados de inquérito com informação mais objetiva, por exemplo as despesas de I&D ou a estrutura de recursos humanos. Essa opção será sempre melhor do que duvidar em público do nosso efetivo desempenho em matéria de inovação.

Estes dados de mobilização da inteligência artificial não deixam de ser surpreendentes e mostram um tecido empresarial bem longe dos estereótipos que as médias estatísticas nos inculcam ano após ano.

Mas sempre que me regozijo com esta outra visão do nosso tecido empresarial, a minha perplexidade aumenta. Em palavras simples, fico perplexo porquê?

A minha perplexidade vem obviamente da nossa incapacidade de mobilizar esta outra dimensão das nossas capacidades empresariais, transformando-as em fatores de crescimento mais sustentado do produto e da produtividade. E, aliás como é frequente, depois do discurso político pós-eufórico sobre a transformação digital da economia portuguesa, entretanto apagado e entregue à modorra comunicacional do António Costa e Silva, os números mostram que a transformação digital está lá e vivinha da silva, como o Eurostat o anuncia.

Por que razão, então, a convergência real não é tão acentuada?

Ou será que o que é bom, moderno e diferente anda a financiar pavões, preguiça e não transacionáveis que baste?

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