(O próximo fim de semana traz-nos duas importantes eleições para aferir do pulso político das tendências de mudança no eleitorado europeu. Na primeira volta das legislativas francesas, pela primeira vez três blocos políticos apresentados sob a forma de coligações eleitorais perfilam-se perante o eleitor: o movimento de Macron que procura apoio legislativo para a sua vitória presidencial; a França insubmissa de Mélechon apresenta-se numa frente de esquerda com o PSF e o PCF, MUPES, procurando forçar a coabitação com Macron; o Grand Rassemblement da extrema-direita de Le Pen que procura conter os danos da derrota nas Presidenciais. Voltaremos dentro de dias a este imbróglio eleitoral. As outras eleições são regionais, Andaluzia, mas não são menos importantes por isso, porque podem determinar uma situação potencial de fritada em fogo lento do governo PSOE-PODEMOS, mais desconjuntado do que nunca.)
A Andaluzia já foi bem lá atrás no tempo um feudo dos socialistas espanhóis. Diziam as más línguas que, à base de uma economia fortemente subsidiada, a população andaluza de médios e baixos rendimentos mantinha com o PSOE uma relação de profunda fidelidade, que se traduziu em inúmeras legislaturas regionais dominadas pelo PSOE.
Contrariando esses arautos da estagnação política endógena, que viam na economia subsidiada e na dependência das políticas sociais a anomia da democracia regional, a verdade é que o poderio do PSOE foi dando sinais de fragilidade. A disputa pelo poder no interior do PSOE, com a líder regional Susana Diáz a perder a sua batalha pela liderança do partido, também não ajudou. A alternância democrática foi possível contrariando o tal efeito de anomia democrática e se é um facto que sem o radicalismo do VOX o PP nunca teria chegado ao poder, o facto é que a direita conquistou o poder e, melhor do que isso, apresenta-se às próximas eleições com sondagens que lhe asseguram (ao PP) uma votação que transcende a votação de toda a esquerda, embora necessite do VOX para atingir a maioria absoluta, VOX que sairá, tudo o indica, também substancialmente reforçado deste ato eleitoral.
Obviamente que são boas notícias para a liderança regional do PP. Embora continue a necessitar do apoio do radicalismo do VOX, chega a esse possível acordo com um reforço substancial do seu capital eleitoral, ganhando nas oito províncias andaluzas, não sabemos se suficiente para evitar a entrada do VOX no Governo regional. Por outro lado, uma vitória na Andaluzia do PP dará a Nuñez Feijoo o impulso que necessita para continuar a manter a pressão junto do governo de Sánchez, tanto mais que o seu efeito novidade parecia começar a abrandar nos últimos tempos.
(Da esquerda para a direita: Juan Manuel Moreno (PP), Inmaculada Nieto (Por Andalucía, coligação de esquerda Izquierda Unida e outras forças políticas), Juan Espadas (PSOE), Macarena Olona (VOX), Juan Marín (Ciudadanus) y Teresa Rodríguez (Adelante Andalícia, plataforma regionalista).
A iniciativa política à esquerda da Vice -Presidente de Sánchez Yolanda Diáz que fez o seu aquecimento por terras de Andaluzia, e borregou, parece não ter tido qualquer efeito em matéria de criação de dinâmicas de recuperação política e o PSOE caminha para um dos seus piores resultados andaluzes de sempre.
Entretanto, também com crónica anunciada, o CIUDADANUS luta desesperadamente para evitar a saída do mapa político, como aconteceu em Madrid e Castela e Leão, confirmando ser um dos mais sinistros casos de efemeridade eleitoral liberal, de um partido moderno e decente que se viu submerso na agudização da polarização política em Espanha.
Sánchez já nos habituou a fôlego de sete gatos. Corre o risco de ser fritado em fogo lento, tantas são as frentes em que está na defensiva. As eleições do próximo fim de semana acrescentarão uns pontos à temperatura a que está a ser fritado. A metáfora não é das melhores, mas quando o óleo da fritura é bem cuidado, não há fritada que me resista por terras andaluzas.
Sem comentários:
Enviar um comentário