segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ALTERNATIVAS?

O meu post precedente não ficaria completo sem tocar uma questão que deriva: mas existe alternativa e, se sim, qual? Limito-me, para já, a uma referência à “Iceland Conference”, realizada em Requejavique a 27 de Outubro sob a égide do FMI e do Governo islandês (“Iceland’s Recovery: Can the Lessons Be Applied Elsewhere?”), no contexto da qual Paul Krugman produziu a seguinte afirmação: “A heterodoxia da Islândia dá-nos um teste à teoria económica”.


Um dos “outputs” mais espantosos da Conferência está na publicação, no “site” do FMI, da comunicação nela apresentada por Nemat Shafik, sua “Deputy Managing Director” (http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/so/2011/car110311a.htm), e de um resumo no “IMF Survey online” sob o sugestivo título “Iceland’s Unorthodox Policies Suggest Alternative Way Out of Crisis”.

Shafik referiu três lições principais aprendidas pelo Fundo na sua colaboração com a Islândia:
· “Quando os países têm uma estratégia clara na cabeça, como era o caso na Islândia, torna-se mais fácil ao FMI envolver-se e prover suporte político e aconselhamento.
· Há vantagens claras em se ter uma caixa de ferramentas heterodoxa – ter mais instrumentos é melhor do que ter poucos.
· A Islândia constituiu um exemplo gerindo para preservar, e mesmo reforçar, o seu Estado social durante a crise.”
Disse ainda Shafik: “A recente investigação do FMI mostrou que os países tendem a crescer mais depressa e mais consistentemente quando a distribuição do rendimento é mais equitativa, por isso o Fundo está agora a prestar muito mais atenção a estes temas nos seus programas.” Um claro sinal dos tempos!

Também aqui, os factos têm mais que ver e as causalidades são mais complexas. Em artigos recentes (“The Guardian” e “Libération”), Étienne Balibar (sim, esse mesmo que foi discípulo e parceiro de Althusser) ilustra bem uma outra leitura ao referir como altamente provável o “fim da Europa como projecto colectivo” em resultado da possível conjugação gravosa de três obstáculos à “verdadeira revolução” anunciada por Schauble e patente no endurecimento “negocial” da Merkel das últimas semanas: porque nenhuma configuração institucional pode garantir os mercados (“nome de código para o fim da especulação”, a qual se alimenta ao mesmo tempo dos riscos de falência e das possibilidades de ganhos que oferece a curto prazo), porque se intensificam as contradições intraeuropeias e porque as opiniões públicas tenderão a fazer surgir uma crise de representação mais grave do que a de 2004. Matérias a rever noutro momento.

O que, por ora, importa é sublinhar que as evidências continuam difusas e que, mesmo se alguns sinais positivos vão chegando, a situação não aponta para um “final feliz”. Por um lado, conservadores e renitentes começam a vacilar: o recém-nomeado (Financial Times) ministro das Finanças do ano, o sueco Anders Borg, veio dizer que as economias europeias mais prudentes em termos orçamentais “teriam ‘most definitely’ de agir se as perspectivas económicas do Continente evoluíssem marcadamente para o pior”; logo depois, o seu homónimo holandês constatava que “as outras medidas ‘firewall’ parecem estar a falhar” e, declarando que “no final, alguma coisa tem de acontecer”, disse admitir “apoiar um papel mais activo para o Banco Central Europeu ‘as a last resort’ para conter a crise da dívida da zona euro”; quase em simultâneo, o colega finlandês ia no mesmo sentido – “se tudo o resto falhar, temos de reflectir no papel do BCE”. Mas, por outro lado, Mario Draghi arrumou com 3 C’s (continuidade, consistência e credibilidade) muitas das esperanças que iam sendo manifestadas no sentido de que pudesse ser um agente activo de uma necessária e urgente mudança de referenciais por parte do BCE, permanecendo assim relativamente tributário das posições germânicas que persistem em insistir na ideia de que a resolução da crise da zona euro não tem “quick fixes” e em rejeitar “eurobonds” ou intervenções adicionais do BCE nos mercados da dívida soberana, apostando numa união fiscal com mudança de tratados e indiciando que a sua “guerra” é outra. Tudo somado, Wolfgang Munchau afirma no FT de hoje que “a zona euro só tem dias para evitar o colapso”, concluindo com um assustador “10 dias no máximo”.

A não haver, assim, como coser as coisas, admitir/estudar alternativas – entre ortodoxias razoáveis e heterodoxias viáveis – cairá no foro da teoria macroeconómica, da história do capitalismo e suas crises ou da revolta dos cidadãos…

Sem comentários:

Enviar um comentário