segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ECONOMISTAS EMPÍRICOS


Christina Romer, Universidade de Berkeley, USA, não é uma economista qualquer. Desempenhou ainda recentemente funções de Presidente do Grupo de Conselheiros da Casa Branca, nomeada pelo Presidente Obama em fins de Novembro de 2008. Num período em que o debate macroeconómico, teórico e doutrinário, sobre as condições de abordagem à ainda não resolvida Grande Recessão de 2008-2009 (com início datado de Dezembro de 2007) está ao rubro, pode parecer paradoxal chamar para o centro do debate uma economista como Christina Romer. A economista é geralmente considerada como uma especialista dos efeitos das políticas monetária e fiscal como instrumentos de estabilização do ciclo económico. No seu mais recente testemunho público, uma conferência sob o título “What do we know about the effects of fiscal policy? Separating evidence from ideology” (http://elsa.berkeley.edu/~cromer/index.shtml) pode ler-se: “Costumo dizer que não sou uma economia Keynesiana. Sou uma economista empírica. Acredito no que faço por causa da evidência empírica”. A conferência aborda um paper conjunto elaborado com o seu marido, também macroeconomista, David Romer.

Por que razão então trazemos este contributo para o centro do debate? Ao contrário de outros contributos empíricos menos rigorosos, Christina Romer analisa em profundidade os efeitos que podem resultar para a economia americana da utilização da política fiscal (redução de impostos ou incremento da despesa publica) como instrumentos de combate à recessão. Mas fá-lo de modo a ter em conta os efeitos do que designa de variáveis ocultas, isto é, de variáveis que podem influenciar o comportamento do produto e que não são em regra consideradas nas análises empíricas. A leitura do paper mostra que o casal Romer trabalhou cerca de um ano a estudar em profundidade a narrativa das decisões políticas que conduziram à utilização da política fiscal, de modo a isolar rigorosamente os seus efeitos. É, por isso, muito relevante que, para além de toda a retórica republicana, puramente ideológica, a conclusão de Romer seja inequívoca sobre o impacto positivo do chamado Recovery Act promovido por Obama. A esta conclusão juntam-se outros contributos inspirados por uma abordagem similar. Assim, embora possa questionar-se se a magnitude da intervenção foi suficientemente forte para a gravidade da recessão, Romer estima que cerca de 3 milhões de pessoas teriam perdido o emprego sem a intervenção do Recovery Act. E a conclusão dos Romer não fica por aqui: contrariando a queda descontrolada da economia, o seu contributo para a estabilidade do sistema financeiro terá sido decisiva. Ou seja, exactamente ao contrário do que, na economia americana, o discurso republicano procura transmitir e do que a presente abordagem à crise das dívidas soberanas determina.

Não conheço neste momento estudos similares credíveis sobre a experiência europeia. Sabe-se pelo menos que o insuspeito World Economic Outlook do FMI (2010) anula qualquer evidência de austeridades expansionistas, confirmando o impacto de contracção de actividade que a consolidação orçamental abrupta tende a determinar.

Os economistas empíricos como Christina Romer não se substituem ao debate de ideias em torno dos paradigmas. Esse deverá ser cada vez mais vivo e aberto e atravessar de uma vez por todas o ensino da economia. O trabalho rigoroso de captação das evidências do tipo da que a investigação do casal Romer realiza constitui um auxiliar precioso desse debate.

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