Christina
Romer, Universidade de Berkeley, USA, não é uma economista qualquer. Desempenhou
ainda recentemente funções de Presidente do Grupo de Conselheiros da Casa
Branca, nomeada pelo Presidente Obama em fins de Novembro de 2008. Num período
em que o debate macroeconómico, teórico e doutrinário, sobre as condições de
abordagem à ainda não resolvida Grande Recessão de 2008-2009 (com início datado
de Dezembro de 2007) está ao rubro, pode parecer paradoxal chamar para o centro
do debate uma economista como Christina Romer. A economista é geralmente
considerada como uma especialista dos efeitos das políticas monetária e fiscal
como instrumentos de estabilização do ciclo económico. No seu mais recente
testemunho público, uma conferência sob o título “What do we know about the effects of
fiscal policy? Separating evidence from ideology” (http://elsa.berkeley.edu/~cromer/index.shtml) pode ler-se: “Costumo
dizer que não sou uma economia Keynesiana. Sou uma economista empírica. Acredito
no que faço por causa da evidência empírica”. A conferência aborda um paper
conjunto elaborado com o seu marido, também macroeconomista, David Romer.
Por que razão
então trazemos este contributo para o centro do debate? Ao contrário de outros
contributos empíricos menos rigorosos, Christina Romer analisa em profundidade
os efeitos que podem resultar para a economia americana da utilização da política
fiscal (redução de impostos ou incremento da despesa publica) como instrumentos de
combate à recessão. Mas fá-lo de modo a ter em conta os efeitos do que designa
de variáveis ocultas, isto é, de variáveis que podem influenciar o
comportamento do produto e que não são em regra consideradas nas análises empíricas.
A leitura do paper mostra que o casal Romer trabalhou cerca de um ano a estudar
em profundidade a narrativa das decisões políticas que conduziram à utilização
da política fiscal, de modo a isolar rigorosamente os seus efeitos. É, por
isso, muito relevante que, para além de toda a retórica republicana, puramente
ideológica, a conclusão de Romer seja inequívoca sobre o impacto positivo do
chamado Recovery Act promovido por Obama. A esta conclusão juntam-se outros contributos
inspirados por uma abordagem similar. Assim, embora possa questionar-se se a
magnitude da intervenção foi suficientemente forte para a gravidade da recessão,
Romer estima que cerca de 3 milhões de pessoas teriam perdido o emprego sem a
intervenção do Recovery Act. E a conclusão dos Romer não fica por aqui: contrariando a queda descontrolada da economia, o
seu contributo para a estabilidade do sistema financeiro terá sido decisiva.
Ou seja, exactamente ao contrário do que, na economia americana, o discurso
republicano procura transmitir e do que a presente abordagem à crise das dívidas
soberanas determina.
Não conheço
neste momento estudos similares credíveis sobre a experiência europeia. Sabe-se
pelo menos que o insuspeito World Economic Outlook do FMI (2010) anula qualquer
evidência de austeridades expansionistas, confirmando o impacto de contracção
de actividade que a consolidação orçamental abrupta tende a determinar.
Os economistas
empíricos como Christina Romer não se substituem ao debate de ideias em torno
dos paradigmas. Esse deverá ser cada vez mais vivo e aberto e atravessar de uma
vez por todas o ensino da economia. O trabalho rigoroso de captação das evidências
do tipo da que a investigação do casal Romer realiza constitui um auxiliar
precioso desse debate.
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