domingo, 27 de novembro de 2011

O ESPECTÁCULO DO SÉCULO XXI























Obama regressou a casa, após um Novembro em que ilustrou claramente a reorientação das prioridades da política externa americana: 48 horas na Europa, quase 10 dias na Ásia! A sua Secretária de Estado (Hillary Clinton) “teorizara-a” num artigo publicado no último número da “Foreign Policy” e a que chamou, com todas as letras, “America’s Pacific Century”. E onde – sublinhando que a região Ásia-Pacífico representa quase metade da população mundial, dispõe da maioria dos motores da economia mundial, inclui vários dos aliados dos EUA e conta com potências económicas como a China, a Índia e a Indonésia – antecipava: “o futuro da política será decidido na Ásia, não no Afeganistão ou no Iraque, e os Estados Unidos estarão bem no centro da acção”.

Duas dimensões explícitas, uma económica e outra militar, integram a estratégia americana. Dimensão económica: fazer das exportações um motor de crescimento e criação de empregos, nomeadamente através da duplicação até 2015 do volume de bens e serviços “made in USA” a vender para a região de mais rápido crescimento económico e de maior potencial de consumo à escala mundial, do acesso formal ao “East Asia Summit” (EAS) – fundado há 6 anos, considerado como uma extensão diplomática da ASEAN e incluindo outros países com interesses locais como a Austrália, a China e a Índia – e da celebração de um “Transpacific Partnership” (TPP) com uma dezena de países. Dimensão militar: manter os acordos de defesa concluídos ao tempo da “guerra fria”, desenvolver novas bases/instalações na zona e aproveitar em seu favor as rivalidades e temores intra-regionais.

Uma e outra das referidas dimensões escondem parcialmente uma componente menos explícita, mas que será talvez a dominante: conter e afrontar, com o máximo de tacto possível, as ambições da China e criar as condições para uma renovada liderança americana no Século XXI. É assim que, p.e., a proposta de acordo TPP visa os chineses e as suas práticas (“deve compreender cláusulas sociais e ambientais muito firmes, assim como outras sobre a protecção intelectual e a inovação”) e que o “estamos cá para ficar” surge em contraponto a um reforço pelo exército chinês dos meios capazes de lhe garantir a tutela da zona que o país vai reivindicando e encarando como tendencialmente “natural”.

A imprensa australiana, talvez a que nos é “culturalmente” mais próxima, fez títulos como “Countering China, Obama asserts US a pacific power” ou “Obama all in with US challenge to China” ou “Obama signals the start of the new Cold War”. A imprensa ocidental, por sua vez, só pôde concordar: “the president’s tour was all about China”. Eis, pois, a disputa que está no nosso horizonte próximo, uma disputa em que a actual configuração financeira mundial constitui um elemento negativamente desequilibrador da balança para os americanos mas uma disputa de resultado largamente indeterminado porque outros argumentos e peripécias (como os acima indiciados) se irão ainda atravessar e fazer sentir.

Em todo o caso, uma coisa podemos ter por certa: esse futuro só muito tangencialmente passará por aqui, por este Velho Continente que soma a actual auto-implosão ao facto de ser hoje, sobretudo, um continente velho…

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