segunda-feira, 7 de novembro de 2011

PIÙ DELLA STESSA


Mais do mesmo. Espero que o meu pobre italiano não me comprometa e o que o título esteja correcto. Mais do mesmo, porquê? A expressão ocorreu-me lendo a carta dirigida pelo 1º Ministro italiano à Cimeira de 26 de Outubro de 2011. Trata-se de um documento através do qual se procura obter o reconhecimento da Cimeira para com os esforços de reforma e de consolidação orçamental presumivelmente em curso no país e se compara esse esforço ao de outros países da zona euro, designadamente a própria Alemanha. É nesses termos que o documento coloca o peso do défice público italiano no PIB em nível similar ao da Alemanha, após as mais recentes revisões deste indicador: 4,6% de Itália contra 4,3% na Alemanha.
Mas o que choca no documento é a sensação do “déjà vu” em muitas dos juízos analíticos que o suportam e das anunciadas reformas. O modo como, por exemplo, o dualismo Norte-Sul é evidenciado reporta-nos ao passado, mais ou menos longínquo, e a relatórios similares com os quais a similaridade da carta de hoje é perturbadora. Aparentemente, a esperança da Itália do Centro, foco de clusters e inovação, desapareceu da circulação. O vazio de novidade é ensurdecedor. Tal como cá, a cartilha da retórica do crescimento e das reformas estruturais está internalizada. Parece claramente que os autores da carta tocam música que a Cimeira pretenderia ouvir:
  •   “remover os constrangimentos e restrições à concorrência e à actividade económica, de modo a permitir, particularmente nos serviços, níveis mais elevados de produção e mais baixos custos e preços;
  • estabelecer um contexto institucional, administrativo e de regulação que capacite a economia para um maior dinamismo;
  •   promover a acumulação de capital físico e humano e o aumento da sua eficiência;
  •  completar as reformas no mercado de trabalho, para ultrapassar o dualismo do mercado de trabalho e estimular as taxas de participação.”
O ainda confuso pedido de monitorização destes esforços por parte do FMI (aparentemente sim, mas as declarações contraditórias no rescaldo da cimeira G20 perturbam essa interpretação) mostra que o êxito probatório da carta do 1º Ministro italiano foi limitado, senão nulo. A credibilidade da fórmula governativa que se propõe concretizar as referidas reformas parece não entusiasmar ninguém, nem os ditos “mercados” em função dos quais a missiva terá sido preparada. Mas para além dessa falta de credibilidade política, a já por mim várias vezes mencionada retórica do crescimento não consegue de facto fazer antever as ambicionadas perspectivas de crescimento. Transformar princípios gerais de favorecimento do livre funcionamento dos mecanismos de mercado em factores de crescimento económico aplicáveis a qualquer situação macroeconómica concreta começa a prefigurar uma banalização que não convence nem os próprios “mercados”. Mas o risco desta banalização agora é outro, porque a dimensão do país em causa é também outra.

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