Mais do mesmo. Espero
que o meu pobre italiano não me comprometa e o que o título esteja correcto. Mais
do mesmo, porquê? A expressão ocorreu-me lendo a carta dirigida pelo 1º
Ministro italiano à Cimeira de 26 de Outubro de 2011. Trata-se de um documento
através do qual se procura obter o reconhecimento da Cimeira para com os
esforços de reforma e de consolidação orçamental presumivelmente em curso no país
e se compara esse esforço ao de outros países da zona euro, designadamente a própria
Alemanha. É nesses termos que o documento coloca o peso do défice público
italiano no PIB em nível similar ao da Alemanha, após as mais recentes revisões
deste indicador: 4,6% de Itália contra 4,3% na Alemanha.
Mas o que choca no
documento é a sensação do “déjà vu”
em muitas dos juízos analíticos que o suportam e das anunciadas reformas. O
modo como, por exemplo, o dualismo Norte-Sul é evidenciado reporta-nos ao
passado, mais ou menos longínquo, e a relatórios similares com os quais a similaridade
da carta de hoje é perturbadora. Aparentemente, a esperança da Itália do Centro,
foco de clusters e inovação, desapareceu
da circulação. O vazio de novidade é ensurdecedor. Tal como cá, a cartilha da
retórica do crescimento e das reformas estruturais está internalizada. Parece
claramente que os autores da carta tocam música que a Cimeira pretenderia
ouvir:
- “remover os constrangimentos e restrições à concorrência e à actividade económica, de modo a permitir, particularmente nos serviços, níveis mais elevados de produção e mais baixos custos e preços;
- estabelecer um contexto institucional, administrativo e de regulação que capacite a economia para um maior dinamismo;
- promover a acumulação de capital físico e humano e o aumento da sua eficiência;
- completar as reformas no mercado de trabalho, para ultrapassar o dualismo do mercado de trabalho e estimular as taxas de participação.”
O ainda confuso
pedido de monitorização destes esforços por parte do FMI (aparentemente sim,
mas as declarações contraditórias no rescaldo da cimeira G20 perturbam essa
interpretação) mostra que o êxito probatório da carta do 1º Ministro italiano
foi limitado, senão nulo. A credibilidade da fórmula governativa que se propõe concretizar
as referidas reformas parece não entusiasmar ninguém, nem os ditos “mercados”
em função dos quais a missiva terá sido preparada. Mas para além dessa falta de
credibilidade política, a já por mim várias vezes mencionada retórica do
crescimento não consegue de facto fazer antever as ambicionadas perspectivas de
crescimento. Transformar princípios gerais de favorecimento do livre
funcionamento dos mecanismos de mercado em factores de crescimento económico aplicáveis
a qualquer situação macroeconómica concreta começa a prefigurar uma banalização
que não convence nem os próprios “mercados”. Mas o risco desta banalização
agora é outro, porque a dimensão do país em causa é também outra.
... dello stesso---
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