quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CORREDOR ATLÂNTICO


Sensivelmente a meio de Outubro passado, a Comissão Europeia (ainda sem o pronunciamento das restantes instituições europeias) aprovou novas orientações para as redes europeias de transporte ferroviário. Dois novos corredores estruturantes foram assumidos, os chamados corredores Atlântico e Mediterrânico. Vale a pena reflectir um pouco sobre o primeiro e sobre o que significa a criação dos dois corredores do ponto de vista do ordenamento do espaço europeu.

O Corredor Ferroviário Atlântico resulta de uma iniciativa essencialmente conduzida pelo Governo Basco com o apoio do Grupo de Transportes do Arco Atlântico (http://www.arcatlantique.org/pdf/doc_travail/417_pt.pdf) e consagra a ligação Sines-Lisboa-Aveiro-Fuentes de Oñoro com posterior conexão a Paris (ver mapa) e plena amarração de todos os portos atlânticos da Península Ibérica (Sines, Lisboa, Aveiro, Vigo, Leixões, Corunha, Gijon, etc. A decisão da Comissão Europeia permite clarificar alguns aspectos da decisão anunciada em Setembro passado pelo Ministro da Economia de avançar com duas linhas ferroviárias de velocidade elevada, para passageiros e mercadorias, Aveiro a Salamanca e Sines a Madrid. A decisão governamental foi apresentada como um reajustamento do transporte de alta velocidade a objectivos mais consistentes de competitividade. Este argumento é válido sobretudo na medida em que a articulação do TGV (de passageiros) com a competitividade da economia portuguesa sempre constituiu um elemento de séria fragilidade do projecto, deficientemente apresentada a debate público. Mas, perspectivada em articulação com a nova decisão da Comissão Europeia, a opção do actual Governo carece ainda de uma melhor explicitação.
Senão vejamos. Uma das novidades dos dois corredores estruturantes aprovados é marginalizarem a centralidade de Madrid. Trata-se de corredores essencialmente de mercadorias e por isso surgem amarrados com as estruturas portuárias do Atlântico e do Mediterrâneo. Ora, se o traçado do corredor estruturante Atlântico recupera no caso português a ligação Sines-Lisboa-Aveiro com posterior ligação a Espanha (Valladolid), região basca e posterior ligação a Paris (reafirmando argumentos inicialmente pelas regiões Norte e Centro, já a anunciada ligação Sines-Madrid (por Badajoz?) mantém a ideia da ligação à centralidade de Madrid. Não são ainda claros os termos em que os corredores estruturantes serão financiados. Coloca-se a questão de saber se o Governo português tem condições para apostar na concretização do traçado do corredor estruturante simultaneamente com a ligação Sines-Madrid, recordando que Sines é considerado um nó do corredor estruturante atlântico. O debate público necessita de elementos mais sólidos e sobretudo uma definição mais consistente da relação passageiros-mercadorias e das condições de financiamento. Mas que a decisão da Comissão Europeia rompe o primado da centralidade de Madrid (marginalizando também a Extremadura espanhola) parece inquestionável, o que não deixa de introduzir uma novidade em todo o posicionamento anterior dos Governos portugueses nesta matéria.

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