Sensivelmente a
meio de Outubro passado, a Comissão Europeia (ainda sem o pronunciamento das
restantes instituições europeias) aprovou novas orientações para as redes
europeias de transporte ferroviário. Dois novos corredores estruturantes foram
assumidos, os chamados corredores Atlântico e Mediterrânico. Vale a pena
reflectir um pouco sobre o primeiro e sobre o que significa a criação dos dois
corredores do ponto de vista do ordenamento do espaço europeu.
O Corredor Ferroviário
Atlântico resulta de uma iniciativa essencialmente conduzida pelo Governo Basco
com o apoio do Grupo de Transportes do Arco Atlântico (http://www.arcatlantique.org/pdf/doc_travail/417_pt.pdf)
e consagra a ligação Sines-Lisboa-Aveiro-Fuentes de Oñoro com posterior conexão
a Paris (ver mapa) e plena amarração de todos os portos atlânticos da Península
Ibérica (Sines, Lisboa, Aveiro, Vigo, Leixões, Corunha, Gijon, etc. A decisão da Comissão
Europeia permite clarificar alguns aspectos da decisão anunciada em Setembro
passado pelo Ministro da Economia de avançar com duas linhas ferroviárias de
velocidade elevada, para passageiros e mercadorias, Aveiro a Salamanca e Sines
a Madrid. A decisão governamental foi apresentada como um reajustamento do
transporte de alta velocidade a objectivos mais consistentes de
competitividade. Este argumento é válido sobretudo na medida em que a articulação
do TGV (de passageiros) com a competitividade da economia portuguesa sempre
constituiu um elemento de séria fragilidade do projecto, deficientemente
apresentada a debate público. Mas, perspectivada em articulação com a nova
decisão da Comissão Europeia, a opção do actual Governo carece ainda de uma
melhor explicitação.
Senão vejamos. Uma
das novidades dos dois corredores estruturantes aprovados é marginalizarem a
centralidade de Madrid. Trata-se de corredores essencialmente de mercadorias e
por isso surgem amarrados com as estruturas portuárias do Atlântico e do
Mediterrâneo. Ora, se o traçado do corredor estruturante Atlântico recupera no
caso português a ligação Sines-Lisboa-Aveiro com posterior ligação a Espanha (Valladolid),
região basca e posterior ligação a Paris (reafirmando argumentos inicialmente
pelas regiões Norte e Centro, já a anunciada ligação Sines-Madrid (por
Badajoz?) mantém a ideia da ligação à centralidade de Madrid. Não são ainda
claros os termos em que os corredores estruturantes serão financiados. Coloca-se
a questão de saber se o Governo português tem condições para apostar na
concretização do traçado do corredor estruturante simultaneamente com a ligação
Sines-Madrid, recordando que Sines é considerado um nó do corredor estruturante
atlântico. O debate público necessita de elementos mais sólidos e sobretudo uma
definição mais consistente da relação passageiros-mercadorias e das condições
de financiamento. Mas que a decisão da Comissão Europeia rompe o primado da
centralidade de Madrid (marginalizando também a Extremadura espanhola) parece inquestionável, o que não deixa de introduzir uma
novidade em todo o posicionamento anterior dos Governos portugueses nesta matéria.
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