“Paris e Berlim estudam hipótese de Zona Euro mais pequena”, noticiou esta noite a RTP. Acrescentando que, perante uma plateia de estudantes em Estrasburgo, Sarkozy terá deixado algumas pistas sobre as suas ideias de modelo possível: uma União Europeia (UE) a dois tempos, com o bloco do euro a avançar mais rapidamente do que o conjunto dos 27 e passagem ao estatuto de “confederação” à medida que essa integração mais célere ocorresse.
Especulação ou não, o certo é que a notícia encaixa numa situação de tal modo desesperada que hipotéticos planos B começam a vir ao de cima, e para todos os gostos. O “Le Monde” referiu-se esta semana a alguns dos que podem estar em estudo nos bancos de ensaio pré-decisionais. À cabeça, mas sempre fora de causa para os alemães, estariam as “soluções” para que vão apelando muitos dos melhores e mais “responsáveis” especialistas: um qualquer “mix” entre monetização massiva das dívidas soberanas pelo BCE (acompanhada de baixa das taxas de juro), governação económica activa nos mercados de obrigações e cambiais (reconduzindo o euro ao seu “valor de equilíbrio”) e políticas articuladas de estímulo (ao centro) e de reforma (na periferia).
Noutro sentido, e em maior alinhamento com as alegadas pistas do presidente francês, estariam evoluções com rupturas assumidas, nomeadamente em torno de dois cenários:
· uma cisão entre euro do Norte (em torno da Alemanha e com forte risco de revalorização e decorrente perda de competitividade) e euro do Sul (pouco coerente e muito provavelmente uma mera etapa para o regresso às soberanias monetárias nacionais), podendo ser defensável a existência de um mecanismo de ajustamento interno capaz de minorar os efeitos mais violentos da especulação a que as duas moedas ficariam sujeitas;
· “passar da moeda única à ‘moeda comum’”, instaurando um sistema de câmbios fixos mas ajustáveis entre cada um dos membros da união monetária e implicando um controlo cambial (dada a circulação paralela de uma “moeda interna” e de uma “moeda externa”, sendo a primeira nacional e a segunda uma unidade de conta semelhante ao antigo “écu” e já designada por alguém como “eurosol”).
A UE está assim transformada num autêntico laboratório, com a macroeconomia em economia aberta permanentemente à prova (natureza da crise? união monetária e desvalorização via mercado de trabalho? austeridade expansionista? criação de inflação como saída para a crise? etc. etc.) e com o crescente peso de exercícios de imaginação e experimentalismo, também político-social – quer nas versões extremas e desnorteadas do redutor “establishment” europeu quer na de um Krugman contrapondo uma quebra das regras “à islandesa” quer, porque não?, nas de uma análise mais cuidada das relevantes lições contidas nas 38 crises observadas na América Latina entre 1980 e 2003.
Tempos intelectualmente interessantes, não fossem a gravidade e o dramatismo das consequências concretas mais prováveis: porque, como sublinhou Munchau há dias, “a intersecção entre soluções politicamente aceitáveis e aquelas que resolveriam a crise é zero”...
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