Bastou mais uma
ameaça ao tortuoso e instável equilíbrio da vida política grega (a ideia de
referendar as condições do segundo pacote de resgate financeiro) e temos de
novo os telefones bilaterais a tocarem, a desconfiança dos mercados a reemergir,
enfim, os resultados da Cimeira de 26 de Outubro abalados. E, pela prospectiva
possível, tudo indica que serão necessários nervos de aço para aguentar a instabilidade
que se avizinha. Neste contexto, a situação portuguesa torna-se
progressivamente tributária de um jogo que não controlamos, sendo por isso
praticamente impossível pedir aos Portugueses soluções que podem revelar-se
inconsistentes face à aceleração do movimento de instabilidade descontrolada na
zona euro.
Entretanto,
engrossa a massa de economistas e outros observadores que assinala a incúria de
não se querer ir mais longe e potenciar mais decisivamente o papel do Banco
Central Europeu (BCE). Insisto nesta questão porque o estatuto do BCE
consagrado legalmente em Tratado constitui a ilustração mais eloquente de como
a ausência de contraditório entre os economistas pode conduzir a dinâmicas sem
saída. A ortodoxia monetária que conduziu ao objectivo único e exclusivo da
estabilidade nominal como guia de acção do BCE representa o equivalente no
passado recente ao que poderemos estar a assistir hoje em matéria de outras opções
que exigem o contraditório ao unanimismo doutrinário. Ainda ontem, mais um
economista prestigiado, Bradford DeLong clamava no Project Syndicate (http://www.project-syndicate.org/commentary/delong119/English)
sobre a incompreensível resistência para operacionalizar a partir do BCE a função
crucial de um banco central, o de emprestador em última instância. Por isso, “trinchados”
ou “dragados” (a partir de hoje e passe o trocadilho), uma resposta mais
coerente e duradoura à instabilidade terá inevitavelmente de fazer cair o tabu
sobre o estatuto do BCE (com e apesar do pensamento alemão nesta matéria. E, em
meu entender, a ortodoxia monetária, a quem foi oferecido um tapete vermelho na
então discussão dos estatutos de intervenção do BCE, não terá hoje as mesmas
condições para condicionar a negociação.
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