terça-feira, 1 de novembro de 2011

EURO DÚVIDAS


Bastou mais uma ameaça ao tortuoso e instável equilíbrio da vida política grega (a ideia de referendar as condições do segundo pacote de resgate financeiro) e temos de novo os telefones bilaterais a tocarem, a desconfiança dos mercados a reemergir, enfim, os resultados da Cimeira de 26 de Outubro abalados. E, pela prospectiva possível, tudo indica que serão necessários nervos de aço para aguentar a instabilidade que se avizinha. Neste contexto, a situação portuguesa torna-se progressivamente tributária de um jogo que não controlamos, sendo por isso praticamente impossível pedir aos Portugueses soluções que podem revelar-se inconsistentes face à aceleração do movimento de instabilidade descontrolada na zona euro.
Entretanto, engrossa a massa de economistas e outros observadores que assinala a incúria de não se querer ir mais longe e potenciar mais decisivamente o papel do Banco Central Europeu (BCE). Insisto nesta questão porque o estatuto do BCE consagrado legalmente em Tratado constitui a ilustração mais eloquente de como a ausência de contraditório entre os economistas pode conduzir a dinâmicas sem saída. A ortodoxia monetária que conduziu ao objectivo único e exclusivo da estabilidade nominal como guia de acção do BCE representa o equivalente no passado recente ao que poderemos estar a assistir hoje em matéria de outras opções que exigem o contraditório ao unanimismo doutrinário. Ainda ontem, mais um economista prestigiado, Bradford DeLong clamava no Project Syndicate (http://www.project-syndicate.org/commentary/delong119/English) sobre a incompreensível resistência para operacionalizar a partir do BCE a função crucial de um banco central, o de emprestador em última instância. Por isso, “trinchados” ou “dragados” (a partir de hoje e passe o trocadilho), uma resposta mais coerente e duradoura à instabilidade terá inevitavelmente de fazer cair o tabu sobre o estatuto do BCE (com e apesar do pensamento alemão nesta matéria. E, em meu entender, a ortodoxia monetária, a quem foi oferecido um tapete vermelho na então discussão dos estatutos de intervenção do BCE, não terá hoje as mesmas condições para condicionar a negociação.

Sem comentários:

Enviar um comentário