Participei hoje, em Braga, no seminário sobre reabilitação
urbana promovido pela Câmara Municipal local em torno de dois projectos de
reabilitação urbana (um deles no Centro Histórico) que estão em discussão pública.
O tema que me foi proposto foi o de pensar as Cidades do ponto de vista dos
desafios que as atravessam.
O mote para a minha intervenção encontrei-o revisitando
um dos mais belos textos que alguma vez li sobre a história e evolução das
Cidades (Fernand Braudel, Civilização material, Economia e Capitalismo séculos XV-XVIII – As
Estruturas do Quotidiano, Teorema, 1979). Citando o excerto que
me serviu de orientação:
“As cidades são transformadores eléctricos: aumentam as tensões, precipitam
as trocas, caldeiam (recarregam, a partir da versão inglesa) constantemente a
vida dos homens. (…) A cidade é cesura, ruptura, destino do mundo.” (p.421).
Com base nesta expressão de sabedoria de quem estuda o
tempo longo, desenvolvi quatro (macro) tendências e os correspondentes desafios
de interpretação, gestão e governação das cidades para os municípios
portugueses nos tempos que nos esperam.
Macrotendências: (i) As cidades tenderão a projectar o seu
peso crescente como espaços de atracção /dinamização de actividade económica e
emprego; (ii) Será nas cidades que a operacionalização das estratégias e dos
imperativos da sustentabilidade encontrará um espaço mais imediato de geração
de novos comportamentos; (iii) Cidades como espaços de polarização e inovação
social, sobretudo na sequência de uma mistura que é explosiva: envelhecimento,
erosão da família tradicional, crise social ditada pelo desemprego-família e
empobrecimento do país; (iv) As Cidades tenderão a projectar aceleradamente os
limites de intervenção das políticas públicas não só por força da escassez de
recursos públicos, mas também porque há factores de diferenciação das cidades
sobre os quais o poder de intervenção das políticas públicas é reduzido (atmosferas
virtuosas e empreendedorismo económico e social).
Com base na exploração destas (macro) tendências é possível
perfilar alguns desafios organizacionais (internos e de cooperação com outras
instituições) que darão corpo a algumas reflexões futuras neste espaço.
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