segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EM TERMOS SIMPLES

(ilustração de Sciammarella em "El País")

Recomendo a última coluna mensal de Sebastian Mallaby (o autor de “More Money Than God: Hedge Funds and the Making of a New Elite”, 2010) no Financial Times de 24 de Novembro (http://www.ft.com/intl/cms/s/0/a1e77c1e-15f2-11e1-a691-00144feabdc0.html#axzz1enZGA9y0). E quero dedicar tal recomendação aos muitos cidadãos, designadamente jornalistas e comentadores, que preferiram entreter-se com os seus fantasmas a produzir a análise imparcial e equilibrada que se lhes exigia sobre o problema nacional e europeu (ou europeu e nacional?), que tão patrioticamente se declararam compreensivos em relação a Merkel e apoiantes fanáticos do rigor alemão contra o despesismo nacional, que qualificaram de “indecente e má figura” quem balbuciasse algo diferente da agenda de derrube do “socratismo”.

Dito isto, a leitura será sobretudo útil àqueles interessados que – não dominando o “economês” e as suas tecnicidades, nem estando particularmente vocacionados para raciocinar em torno de puzzles de maior ou menor teor ideológico ou conspirativo – sempre procuraram solicitar explicações simples que os ajudassem a entender a preocupante evolução da realidade circundante.

Algumas frases desse “Germany is the real winner in a transfer union”, só para dar o tom e “abrir o apetite”:
· “o mito, largamente alimentado no norte da Europa, de que os países da periferia do sul são os beneficiários imerecidos de uma união fiscal caritativa” versus “a verdade é que a Alemanha obtém uma miríade de benefícios da união monetária”;
· “mais do que condenar os preguiçosos sulistas, os alemães deveriam partilhar o saque” e “mais do que rebaixar os perdedores, a Alemanha deveria compensá-los”;
· “a chegada do euro fez mossa ao enviesamento dos aforradores internos e privou Portugal do seu próprio banco central. (…) O desfecho é que os custos dos empréstimos a Portugal são de longe mais altos do que quando tinha a sua própria moeda. É evidente que os movimentos de capital que agridem Portugal são os mesmos que acomodam a sortuda Alemanha”;
· “realmente, a união monetária europeia envolve transferências. Mas não é verdade que estas transferências fluam só num sentido. A Alemanha paga através de resgates e transferências intra-regionais; mas também recebe através dos canais comercial e monetário”.

Claro que os factos têm mais que ver e claro que as causalidades são mais complexas. Mas, ainda assim, o “fresco impressionista” de Mallaby ganha claramente aos pontos sobre o “austeritarismo vulgar” de académicos autistas e políticos incompetentes…

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