O Porto parece
que caiu nas boas graças do NY Times (http://travel.nytimes.com/2011/11/27/travel/36-hours-in-porto-portugal.html?hpw).
Se a memória não me atraiçoa, pela segunda ou terceira vez, a rubrica Travel
dedica à cidade uma reportagem marcadamente sensorial, com o alcance que aquela
rubrica do jornal (versão electrónica e impressa do domingo 27.11.2011) tende a
proporcionar. Desta vez, trata-se de uma reportagem de 36 horas, orientada em
função de um visitante acidental. A mensagem enquadra-se essencialmente no âmbito
dos chamados “short breaks” no âmbito dos quais o Porto parece ganhar alguma
visibilidade, em estreita articulação com o reforço da plataforma giratória da
Ryanair.
A mensagem
sensorial que a reportagem transmite combina aspectos tradicionais da cidade
alargada (incluindo o espaço ribeirinho de V. N. Gaia) como as caves ou a
frente atlântica com novos elementos de afirmação cosmopolita do Porto, nos
quais também se destacam equipamentos marcantes como a Casa da Música e Serralves,
as atmosferas de convivialidade da cidade, a diversificação de tipologias de
oferta hoteleira e as galerias de Miguel Bombarda. Esta combinação, reconhecida
inequivocamente na reportagem, vem ao encontro do que, em meu entender, constitui
uma combinatória ganhadora de algumas cidades que buscam a atracção do visitante
acidental. A inimitabilidade dessa atracção reside em factores cuja viabilização
não depende da acção tradicional e conservadora de políticas públicas
municipais. Começa por depender de equipamentos ou infra-estruturas que exigem projectos
estruturados de cooperação entre administração central e local que devem
envolver decisivamente o sector privado. A Casa da Música e o Serralves corporizam
bem a justeza dessa orientação. O relevo que estes dois projectos assumem na
reportagem ilustra bem que o seu impacto efectivo na atractividade da cidade
exige um tempo de maturação que regra geral está para além dos tempos
reservados para a avaliação custo-benefício dos recursos públicos investidos na
sua promoção. Mas, para além disso, a combinação geradora de inimitabilidade integra
os aspectos mais tradicionais de afirmação da cidade com novas atmosferas de
convivialidade que tendem a formar-se não força da política local, mas apesar e muitas vezes contra
a corrente dessa intervenção. Todos estes factores escapam à intervenção
conservadora mais tradicional.
As reportagens do
tipo da do NY Times vão permitindo afinar o perfil de atractividade do
visitante acidental sobre o qual importa construir uma maior solidez, pelo menos
enquanto a efemeridade de algumas das atmosferas, designadamente nocturnas, não
criar novas formas que substituirão as existentes. É discutível que hotelaria de luxo como o
Yeatman em Vila Nova de Gaia (também destacado na reportagem) se insira neste
padrão, mas atinge certamente outros públicos.
O que parece é
que o perfil de visitante acidental veiculado pelo NY Times não depende da
matriz de eventos sobre os quais a autarquia tem tanto batalhado (automóveis,
Red Bull e outros que a imaginação política tenda a promover). O que parece
marcar a ambiência reconhecida é o espírito de convivialidade e de tolerância social
da cidade e esse tenderá a resistir, espero, ao projecto mais conservador, por mais
resistente que se apresente.
Sem comentários:
Enviar um comentário