quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O VISITANTE ACIDENTAL DO NY TIMES


O Porto parece que caiu nas boas graças do NY Times (http://travel.nytimes.com/2011/11/27/travel/36-hours-in-porto-portugal.html?hpw). Se a memória não me atraiçoa, pela segunda ou terceira vez, a rubrica Travel dedica à cidade uma reportagem marcadamente sensorial, com o alcance que aquela rubrica do jornal (versão electrónica e impressa do domingo 27.11.2011) tende a proporcionar. Desta vez, trata-se de uma reportagem de 36 horas, orientada em função de um visitante acidental. A mensagem enquadra-se essencialmente no âmbito dos chamados “short breaks” no âmbito dos quais o Porto parece ganhar alguma visibilidade, em estreita articulação com o reforço da plataforma giratória da Ryanair.

A mensagem sensorial que a reportagem transmite combina aspectos tradicionais da cidade alargada (incluindo o espaço ribeirinho de V. N. Gaia) como as caves ou a frente atlântica com novos elementos de afirmação cosmopolita do Porto, nos quais também se destacam equipamentos marcantes como a Casa da Música e Serralves, as atmosferas de convivialidade da cidade, a diversificação de tipologias de oferta hoteleira e as galerias de Miguel Bombarda. Esta combinação, reconhecida inequivocamente na reportagem, vem ao encontro do que, em meu entender, constitui uma combinatória ganhadora de algumas cidades que buscam a atracção do visitante acidental. A inimitabilidade dessa atracção reside em factores cuja viabilização não depende da acção tradicional e conservadora de políticas públicas municipais. Começa por depender de equipamentos ou infra-estruturas que exigem projectos estruturados de cooperação entre administração central e local que devem envolver decisivamente o sector privado. A Casa da Música e o Serralves corporizam bem a justeza dessa orientação. O relevo que estes dois projectos assumem na reportagem ilustra bem que o seu impacto efectivo na atractividade da cidade exige um tempo de maturação que regra geral está para além dos tempos reservados para a avaliação custo-benefício dos recursos públicos investidos na sua promoção. Mas, para além disso, a combinação geradora de inimitabilidade integra os aspectos mais tradicionais de afirmação da cidade com novas atmosferas de convivialidade que tendem a formar-se não força da política local, mas apesar e muitas vezes contra a corrente dessa intervenção. Todos estes factores escapam à intervenção conservadora mais tradicional.

As reportagens do tipo da do NY Times vão permitindo afinar o perfil de atractividade do visitante acidental sobre o qual importa construir uma maior solidez, pelo menos enquanto a efemeridade de algumas das atmosferas, designadamente nocturnas, não criar novas formas que substituirão as existentes. É discutível que hotelaria de luxo como o Yeatman em Vila Nova de Gaia (também destacado na reportagem) se insira neste padrão, mas atinge certamente outros públicos.

O que parece é que o perfil de visitante acidental veiculado pelo NY Times não depende da matriz de eventos sobre os quais a autarquia tem tanto batalhado (automóveis, Red Bull e outros que a imaginação política tenda a promover). O que parece marcar a ambiência reconhecida é o espírito de convivialidade e de tolerância social da cidade e esse tenderá a resistir, espero, ao projecto mais conservador, por mais resistente que se apresente.

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