Acabo de presenciar o que foi a homenagem de uma universidade a um autor: o Doutoramento Honoris Causa do cineasta Manoel de Oliveira pela Universidade Portucalense da sua cidade do Porto.
O elogio do doutorando foi de Abílio Hernandez Cardoso, responsável pela recém-criada “Cátedra Manoel de Oliveira de Cultura e Criatividade”, doutor pela Universidade de Coimbra e presidente do Colégio das Artes. Que falou em resistência e dissidência, citou Derrida para assimilar a universidade e o autor, sublinhou a busca do justo e do verdadeiro porque o belo brota naturalmente, evidenciou o humanismo do homenageado e finalizou declamando um poema de um seu amigo, José Régio:
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais..
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
A concluir uma cerimónia exemplar, Oliveira – 103 anos e mais de 40 longas-metragens desde 1974 – disse quase tudo o que as circunstâncias pediam e a circunstância justifica: do cinema como espelho da vida, das tragédias gregas como maneira de ensinar ao público a condição humana, da crise, dos pobres e da falta de valores como temas do filme mais recente. A felicidade na vida tanto é “não acontecer nada” (diz-se em “O Gebo e a Sombra” de Raul Brandão, rodado este Outono em Paris) como fazer acontecer sempre (já vem aí “A Igreja do Diabo”). Sem pensar na “entrada para o absoluto”…
O elogio do doutorando foi de Abílio Hernandez Cardoso, responsável pela recém-criada “Cátedra Manoel de Oliveira de Cultura e Criatividade”, doutor pela Universidade de Coimbra e presidente do Colégio das Artes. Que falou em resistência e dissidência, citou Derrida para assimilar a universidade e o autor, sublinhou a busca do justo e do verdadeiro porque o belo brota naturalmente, evidenciou o humanismo do homenageado e finalizou declamando um poema de um seu amigo, José Régio:
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais..
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
A concluir uma cerimónia exemplar, Oliveira – 103 anos e mais de 40 longas-metragens desde 1974 – disse quase tudo o que as circunstâncias pediam e a circunstância justifica: do cinema como espelho da vida, das tragédias gregas como maneira de ensinar ao público a condição humana, da crise, dos pobres e da falta de valores como temas do filme mais recente. A felicidade na vida tanto é “não acontecer nada” (diz-se em “O Gebo e a Sombra” de Raul Brandão, rodado este Outono em Paris) como fazer acontecer sempre (já vem aí “A Igreja do Diabo”). Sem pensar na “entrada para o absoluto”…
O problema é que não basta citar Derrida, é preciso levá-lo à prática, nomeadamente no seu esforço de "desconstrução" e isso as universidades portuguesas estão longe de fazer e legitimar.
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