quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A QUADRATURA DO CÍRCULO?

Li de manhã no Jornal de Notícias que o Presidente da Câmara do Porto pensa vender a privados 45% da empresa municipal Águas do Porto, pretendendo encaixar 30 milhões de euros para compensar a quebra das receitas municipais e financiar investimentos na Cidade(http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=2109843).

À noite, ouvi-o em entrevista à “RTP Informação” confessar, entre várias outras considerações mais ou menos discutíveis, que cabe no seu racional para aquela decisão o facto de estar a dois anos do fim do mandato e de pretender evitar que a sua futura ausência ao leme conduza a que a empresa tenha prejuízos (como quando foi SMAS, antes de 2006)!

A história parece-me mal contada, sobretudo por omissão. É que é “tudo estrada”, como se diz no Porto: encaixe financeiro significativo, manutenção de maioria do capital e direito de veto sobre a nomeação do director-geral, garantias de defesa do interesse público em termos de tarifas (por 30 anos), de continuidade de investimento modernizador e de inibições de alienação de património. “Chapeau” a esta verdadeira “quadratura do círculo”!

Não obstante, e legitimidade política excluída, diversas legitimidades deixam dúvidas; entre outras, e não discutindo aqui a da opção propriamente dita (pelas características específicas do sector em causa), sobressaem a do “timing” (ultrapassado mais de metade do terceiro mandato) e a da péssima conjuntura de mercado – a ponto de, não fora a aparente existência de condições “sine qua non” do negócio (mas cuidado com o concurso e com os contratos!), até se poder pensar que também a CMP assinou com a Troika um acordo de privatização (ainda que parcial) da sua melhor jóia empresarial!

Tudo somado, só o futuro poderá vir a mostrar se existe conteúdo concretizável no anúncio feito, assim como se o seu verdadeiro móbil é predominantemente pessoal (mais espaço mediático futuro e mais lugar na história via obras iniciadas, até no Bolhão!), de jogo político (manietando ou provocando possíveis sucessores, como o chamado “Menezes de Gaia”) ou interno à própria montagem da operação (porque o diabo se esconde nos detalhes). De todo o modo, ficam desde já de pé os ganhos desta engenhosa acção de marketing…

Sem comentários:

Enviar um comentário