Um jogador de
ténis mesmo que mediano ou então qualquer entusiasta não praticante da
modalidade sabe que na dinâmica do jogo há uma posição que se deve evitar a
todo o custo – o meio do court. Apenas predestinados e mesmo esses em situações
de excepcionalidade conseguem superar a extrema vulnerabilidade dessa posição.
Essa vulnerabilidade acontece por contraponto à posição de fundo de court, que
implica perseverança, robustez e consistência de jogo e à de jogo de rede, mais
arriscada, de conclusão mais rápida.
A metáfora do
ténis ocorre-me para descrever as soluções inconsistentes que a chamada
governação por cimeiras tem desenvolvido para superar os diferentes
desequilíbrios que abalam a maioria dos sub-grupos ou espaços em que a economia
mundial está estruturada: Zona Euro, União Europeia, Estados Unidos da América
e economia mundial como um todo. Na verdade, subjacente a todas as formas de
instabilidade instalada, existem desequilíbrios de monta e que não são
passageiros. Em termos mais prosaicos, a existência de excedentes e défices
mais ou menos persistentes entre espaços ilustra que não são ajustamentos
simples ou simples ajustamentos que os permitem ultrapassar. Vale a pena aplicar
este referencial a grupos de países específicos na zona euro. O confronto entre
o défice externo corrente conjunto do grupo Portugal, Grécia, Espanha e Itália e
o excedente alemão é surpreendente (ver a reflexão recente de Krugman sobre
esta matéria - http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/11/07/wishful-thinking-and-the-road-to-eurogeddon/?scp=3&sq=Krugman%20blog&st=cse,
retomando a de Gavyn Davies no Financial Times - http://blogs.ft.com/gavyndavies/2011/11/06/the-eurozone-decouples-from-the-world/#axzz1d0Hun5-RB.
Há alguns anos
atrás ensinava-se que tudo isto devia ser compreendido no quadro de uma dada
ordem económica internacional. Hoje, a experiência mostra que a governação por
cimeiras se alimenta de impulsos mais ou menos inconsistentes.
A comparação com a
metáfora do meio do court justifica-se. Nos impulsos de cimeiras não se
vislumbra nem a aproximação a uma nova arquitectura institucional de longo
prazo (robusta como o jogo de fundo de court), nem a aceleração de um conjunto
de medidas capazes de suster a instabilidade (matar a jogada na rede). A
mediatização desse modelo de governação por impulsos mina a própria
consistência do modelo. À tensão mediática da criação de expectativas em torno
de encontros marcantes correspondem vazios de decisão, agravando a
vulnerabilidade das situações. E, em coerência com esse modelo, as instituições
que já corporizaram uma ordem económica internacional (a de Bretton Woods)
esvaziam-se, apagam-se, produzindo autênticos apagões nos períodos
inter-cimeiras. É de facto necessário muito optimismo para esperar, como alguns
observadores o admitiram, que estivesse eminente um novo Bretton Woods, capaz
de acomodar os novos desequilíbrios inter-espaços económicos alargados. Mas
onde está o pensamento de base que possa suportar a desejada nova arquitectura
institucional? Quem hoje poderia assumir o papel que Keynes assumiu na gestação
de Bretton Woods?
Com toda esta
definição, o apelo às economias emergentes para jogar um papel activo quer na
alimentação do FEEF europeu, quer ainda na própria estruturação da economia
mundial, soa a esperteza cínica. Pode perguntar-se que nova arquitectura
institucional poderia enquadrar essa participação mais activa das economias
emergentes? Só no âmbito de uma solução de mais longo prazo, na qual o papel
dessas economias fosse devidamente assumido, teria sentido esse apelo. Não
havendo indícios que essa discussão esteja a ser preparada, a incapacidade
europeia de ir ao fundo do seu próprio problema tenderá apenas a afastar as
economias emergentes de uma participação de circunstância. Vender sucedâneos
mal amanhados de um “Consenso de Washington” em agonia e contrariado pelas
evidências empíricas não será produto facilmente comprado por tais economias.
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