Na senda do meu penúltimo post, tenho seguido com atenção o debate sobre a gestão das
expectativas na e sobre a economia americana que a presidência e outros órgãos
intervenientes na decisão do FED têm vindo a realizar na sequência das
melhorias visíveis observadas nos indicadores macroeconómicos que estão sob a
vigilância e monitorização do FED.
Como pano de fundo a todo o debate duas
evidências não podem ser ignoradas. Primeiro, em comparação com os outros
motores da economia mundial, a economia americana está inequivocamente em
melhor situação, ainda que não devamos perder de vista as ameaças de estagnação
secular que, mais a longo prazo, pesam sobre ela. Segundo, a recente queda do
preço do petróleo vem introduzir mais complexidade na prospetiva a curto prazo,
já que a dupla qualidade de produtor e consumidor dos EUA torna difícil a
antevisão de saber se predominarão situações de perdedores ou de ganhadores e
os respetivos impactos na distribuição do rendimento.
A antevisão de que o FED mudaria a sua intervenção
de estímulo à economia americana precipitou-se com o anúncio e concretização da
medida de suspender as operações de quantitative
easing mediante aquisições de títulos e consequente injeção de liquidez na
economia. Daí à discussão de quando as taxas de juro serão aumentadas foi um ápice,
sobretudo porque o FED alongou significativamente o período de monitorização
mais profunda, completando a descida da taxa de desemprego com a observação de
um conjunto mais vasto de indicadores do mercado de trabalho mais orientados
para a determinação da massa de recursos não utilizada.
O Free Exchange do Economist acaba de entrar na liça através de um artigo de Ryan Avent,
salientando dois fatores que podem prenunciar que o FED está na eminência de
cometer um erro que pode ter sérias repercussões macroeconómicas. Por um lado, é
discutível que a economia americana esteja perto do pleno emprego (considerando
como é óbvio a existência de uma certa margem de desemprego natural). Observam-se,
de facto, evidências em matéria de baixa taxa de participação no mercado de
trabalho, ritmo de crescimento das horas de trabalho, da produtividade e dos
salários que apontam para tudo menos para uma situação de proximidade ao pleno
emprego. Ainda há dias se demonstrava que o número de oportunidades de postos
de trabalho abertas se quedava por uma percentagem ainda baixa das procuras de
um emprego. Por outro lado, há evidências de que as expectativas de inflação
estão a convergir para a inflação atual, e não o seu contrário, que está substancialmente
abaixo da meta da inflação dos 2%, tudo indicando que a inflação média deste
ciclo económico permanecerá substancialmente abaixo do referencial dos 2%.
Vale a pena partilhar a sábia reflexão final de
Ryan Avent sobre o assunto:
“Apressando-se a
aumentar taxas enquanto a inflação está baixa é a melhor maneira de assegurar
que o FED permanecerá numa situação de taxa zero pelos próximos anos. Essa foi
a lição dos anos 1930 e da experiência japonesa. Foi essa também a lição desta
recuperação. O BCE e o banco central da Suécia também cometeram o mesmo erro. Assim
também o FED, à sua maneira; por várias vezes, o FED procurou terminar com a
compra de títulos antes da economia estar pronta, o que o obriga a começar de
novo as compras para colocar a recuperação no trilho certo. As suas corridas
impacientes para uma saída do processo conduzem a mais compras e a um maior
balanço.”
Os tempos estão perigosos para o uso ideológico
da política macroeconómica. A sensatez das lições do passado parece não ter
força para resistir à impaciência dos falcões da política monetária de mais
aperto financeiro.
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