quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

VAI OU NÃO O FED ARREPENDER-SE?



Na senda do meu penúltimo post, tenho seguido com atenção o debate sobre a gestão das expectativas na e sobre a economia americana que a presidência e outros órgãos intervenientes na decisão do FED têm vindo a realizar na sequência das melhorias visíveis observadas nos indicadores macroeconómicos que estão sob a vigilância e monitorização do FED.
Como pano de fundo a todo o debate duas evidências não podem ser ignoradas. Primeiro, em comparação com os outros motores da economia mundial, a economia americana está inequivocamente em melhor situação, ainda que não devamos perder de vista as ameaças de estagnação secular que, mais a longo prazo, pesam sobre ela. Segundo, a recente queda do preço do petróleo vem introduzir mais complexidade na prospetiva a curto prazo, já que a dupla qualidade de produtor e consumidor dos EUA torna difícil a antevisão de saber se predominarão situações de perdedores ou de ganhadores e os respetivos impactos na distribuição do rendimento.
A antevisão de que o FED mudaria a sua intervenção de estímulo à economia americana precipitou-se com o anúncio e concretização da medida de suspender as operações de quantitative easing mediante aquisições de títulos e consequente injeção de liquidez na economia. Daí à discussão de quando as taxas de juro serão aumentadas foi um ápice, sobretudo porque o FED alongou significativamente o período de monitorização mais profunda, completando a descida da taxa de desemprego com a observação de um conjunto mais vasto de indicadores do mercado de trabalho mais orientados para a determinação da massa de recursos não utilizada.
O Free Exchange do Economist acaba de entrar na liça através de um artigo de Ryan Avent, salientando dois fatores que podem prenunciar que o FED está na eminência de cometer um erro que pode ter sérias repercussões macroeconómicas. Por um lado, é discutível que a economia americana esteja perto do pleno emprego (considerando como é óbvio a existência de uma certa margem de desemprego natural). Observam-se, de facto, evidências em matéria de baixa taxa de participação no mercado de trabalho, ritmo de crescimento das horas de trabalho, da produtividade e dos salários que apontam para tudo menos para uma situação de proximidade ao pleno emprego. Ainda há dias se demonstrava que o número de oportunidades de postos de trabalho abertas se quedava por uma percentagem ainda baixa das procuras de um emprego. Por outro lado, há evidências de que as expectativas de inflação estão a convergir para a inflação atual, e não o seu contrário, que está substancialmente abaixo da meta da inflação dos 2%, tudo indicando que a inflação média deste ciclo económico permanecerá substancialmente abaixo do referencial dos 2%.
Vale a pena partilhar a sábia reflexão final de Ryan Avent sobre o assunto:
Apressando-se a aumentar taxas enquanto a inflação está baixa é a melhor maneira de assegurar que o FED permanecerá numa situação de taxa zero pelos próximos anos. Essa foi a lição dos anos 1930 e da experiência japonesa. Foi essa também a lição desta recuperação. O BCE e o banco central da Suécia também cometeram o mesmo erro. Assim também o FED, à sua maneira; por várias vezes, o FED procurou terminar com a compra de títulos antes da economia estar pronta, o que o obriga a começar de novo as compras para colocar a recuperação no trilho certo. As suas corridas impacientes para uma saída do processo conduzem a mais compras e a um maior balanço.”
Os tempos estão perigosos para o uso ideológico da política macroeconómica. A sensatez das lições do passado parece não ter força para resistir à impaciência dos falcões da política monetária de mais aperto financeiro.

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