(Miguel Manso, Jornal Público)
Como é do conhecimento geral a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) iniciou em 2014 os trabalhos de avaliação das estruturas de ciência
em Portugal visando determinar a hierarquia dos financiamentos anuais de 2015 a
2020. O exercício foi realizado com o envolvimento da European Science Foundation de
Estrasburgo, uma instituição acreditada nos e pelos meios da investigação científica,
o que não é condição suficiente para que o exercício tenha sido realizado com
um conhecimento profundo do universo muito diversificado de estruturas
nacionais de ciência. Como é também conhecido, os resultados da primeira fase
suscitaram enorme controvérsia, tendo afastado do processo cerca de 144 centros
num universo de 322.
A segunda fase cujos resultados foram agora
publicados destinava-se a hierarquizar de novo os 178 restantes, com foco
especial no grupo dos que obteriam a nota de Excecional e de Excelente, para os
quais está disponível a maior fatia dos recursos disponibilizados pelo Governo,
a distribuir em função da massa de investigadores e da notoriedade científica
obtida internacionalmente. Claro que a atribuição do estatuto de Excecional e
de Excelente não resulta de um exercício puramente classificativo, porque foi
conhecido que a FCT tinha à partida imposto quotas, destinando-se a avaliação a
definir a permissão de entrada nessas quotas de financiamento.
Tem interesse percorrer os diferentes grupos
classificativos em que a ciência portuguesa estruturada em centros passa a
estar organizada.
Comecemos pelo topo da tabela, mais propriamente
o grupo de 11 grupos classificados como excecionais. Todas as 11 unidades “excecionais”
aparecem na pauta com uma pontuação máxima de 25. Anoto a relevante curiosidade
de nesta lista inicial surgirem duas unidades de humanidades – o Institute for Comparative Literature (16
investigadores) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Centre for Comparative Studies (50
investigadores) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Neste grupo
as ciências sociais não estão representadas. As 9 excecionais restantes
representam a ciência pura e dura: matemática (Center
for Mathematics – Universidade de Coimbra com 67 investigadores;
as ciências da vida e da saúde: Institute for
Research and Innovation in Health Sciences da Universidade do
Porto com 350 investigadores, que junta várias unidades de excelência da UP
nesta área e a que preside o meu amigo Mário Barbosa, um cientista de pura água;
o Champalimaud Neuroscience Programme sempre
bem alinhado nestas classificações com 50 investigadores; o Institute
Gulbenkian de Ciência com 96 investigadores; as engenharias: Institute of R&D in Structures and Construction
da Faculdade de Engenharia do Porto com
46 investigadores; as nanociências: Institute of
Nanostructures, Nanomodelling and Nanofabrication da
Universidade da conhecidíssima Elvira Fortunato com 25 investigadores e mais
duas instituições, o Institute for
Plasmas and Nuclear Fusions do Técnico e a Applied
Molecular Biosciences Unit, uma rede. O Centro
Interuniversidades de História da Ciência e da Tecnologia fecha
o grupo.
Independentemente do mérito relativo, o universo das
excecionais parece-me equilibrado e não tem o enviesamento para as ciências da
vida que se esperaria. As humanidades estão presentes, ainda que as ciências sociais
o não tenham conseguido. A Universidade do Porto está bem representada.
O universo das unidades excelentes é mais vasto e
por isso mais complexo identificar as regularidades.
As ciências sociais estão agora presentes através
da unidade de investigação da Universidade Católica
da Professora Leonor Modesto, do Instituto de Ciências
Sociais, do Centro de Investigação
em Políticas do Ensino Superior do Pedro Teixeira agora
Vice-Reitor da UP (bravo Hugo e outros investigadores), de grupos de sociologia
e psicologia no Minho, no Porto e em Lisboa e da Unidade
de Investigação sobre Governança, Competitividade e Políticas Públicas
da Universidade de Aveiro liderado pelo Professor Eduardo Anselmo Castro que é
o último da lista dos Excelentes.
Talvez o verdadeiramente apimentado venha para o
fim. O Instituto de Ciências Sociais (Excelente) suplantou o CES de Boaventura
Sousa Santos (Muito Bom). Maria Filomena Mónica deve rebolar-se de
contentamento.
Uma nota final: a Faculdade de Economia do Porto
colocou apenas um único centro (Muito Bom), muito distante dos critérios da
excelência, neste caso o Center for
Economics and Finance, dirigido pelo amigo António Almodovar. Numa
altura em que a tragédia do poder ensandeceu uma grande parte dos professores
da FEP, tragédia na qual a gente mais lúcida e o maior talento teima e bem não
partilhar. Estes resultados deveriam ser causa suficiente para uma grande
varridela nos destinos da FEP, acaso o talento e a lucidez tivessem capacidade de
entendimento.
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