A minha relação obsessiva com os livros é
marcadamente sensorial e, por isso, embora os leia quando o conteúdo o
justifica, não sou grande apreciador de e-books. O tato com as páginas, o modo
como o tipo de papel interage com a minha sensibilidade, o formato do próprio
livro, a sedução da capa sobretudo quando ela tem um toque artesanal, de
reinvenção de uma raridade tudo é oportunidade para uma relação de apego
imediato.
Quinta-feira passada, depois do almoço de Natal
da Quaternaire em Lisboa na Lx Factory (como o tempo passa e quantos Natais QP
se acumulam na usura irreversível do tempo), quando fazia a visita obrigatória à
Ler Devagar, nessa relação deambulante e puramente aleatória e sensorial com as
mesas e as estantes, o livro de Jeff Fuchs da Livros de Bordo, A Antiga Rota do Chá e dos Cavalos (Viagens
com os últimos muleteiros dos Himalaias), entrou fulminante no meu raio de
recetividade à sedução. Sou mau viageiro, nunca o fui, e cada vez mais estou a
transformar-me num viajante rezingão e propenso à imobilidade, mas mesmo assim
a relação entre as viagens e o comércio sempre me fascinou. Os relatos de Jeff
Fuchs de viagens com os últimos muleteiros dos Himalaias sãs fascinantes,
constituindo um prodigioso estímulo à imaginação dos viajantes renitentes.
Da literatura para a música, a Resonance Records
acaba de editar as Manhattan Stories de Charles Lloyd, em companhia de Gábor
Szabó na guitarra, Ron Carter no baixo e Pete La Roca Sims na bateria. Sabe bem
regressar ao Lloyd de outros tempos, com outro fulgor físico, mas talvez sem o
lirismo das últimas obras.
Duas sugestões para o vosso lazer contemplativo
de fim de semana ou talvez matéria para uma prenda de última hora ou mais
sensorial.
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