sábado, 13 de dezembro de 2014

BELMIRO E O SISTEMA



A sucessão vertiginosa de acontecimentos com que temos sido bombardeados nos últimos tempos levou a que fosse adiando uma chamada de atenção para um facto que tenho por relevante, a saber: o recente aumento de capital levado a cabo pela Sonae Indústria e alguns dos aspetos que o caraterizaram.

Vejamos então. A Sonae Indústria decidiu legitimamente efetuar um aumento de capital de 150 milhões de euros com o objetivo primordial de refinanciar quase metade do seu endividamento. Fixou-o em até 150 milhões de euros, tendo-se a Efanor (holding de Belmiro de Azevedo) desde logo proposto assegurar cerca de 75 milhões.

Só que mais uma vez, e como quase sempre ocorre, o verdadeiro problema ficou escondido nos detalhes. Sintetizo: antes da operação de aumento de capital, este era representado por 140 milhões de títulos correspondentes a um capital social de 700 milhões de euros; foi definido pelo conselho de administração (CA) da empresa que a concretização da operação deveria conduzir a uma elevação deste capital social para 850 milhões mas, e cito, “o preço de subscrição foi fixado em 1 cêntimo por ação, de acordo com um rácio de 107,1428571428571 novas ações ordinárias por cada 1 ação ordinária detida” – ou seja, o número de ações representativas do capital da empresa passaria daqueles 140 milhões para mais de 15 mil milhões!

Aprofundemos um pouco mais: o preço de subscrição dos novos títulos (apenas 1 cêntimo) compara com os 35,9 cêntimos a que as ações tinham encerraram na sessão anterior ao comunicado de anúncio do CA (30 de Outubro), o que vale por dizer que materializa um incompreensível desconto de quase 97% face àquela cotação; como é lógico, o impacto nas cotações não se fez esperar e as ações afundaram 78% em apenas cinco sessões. Dispenso-me de ir aqui mais longe nesta matéria, ficando-me pelo principal resultado objetivo: uma fortíssima penalização dos pequenos acionistas (o gráfico acima é disso mais do que eloquente).

Alguns dirão que estamos perante o sistema a funcionar em o máximo do seu esplendor. Será, mas o que não é menos certo é que, miudezas à parte, este tipo de operação é já um clássico de décadas contando com dezenas de ilustrações – recordem-se, além de outras posteriores, as marcantes/traumatizantes operações pioneiras dos anos 80 do século passado, amplamente patrocinadas pelo BPA de João Oliveira – nos perímetros empresariais associados a Belmiro de Azevedo. É que há muitas maneiras de matar pulgas...

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