sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

UMA GRANDE OBRA



Já certamente perceberam que o bichinho da globalização como matéria de estudo está permanentemente a estimular-me a memória de uma prática docente e a puxar-me também para o desafio de, num dia destes, me abalançar a colocar em livro o meu curso de Globalização e Desenvolvimento Económico, com o qual terminei na FEP a minha série de cursos construídos de raiz.
O convite em novembro passado para lecionar uma aula sobre o tema ao Mestrado de Economia e Gestão da Inovação e agora a sua repetição para o fazer no Mestrado em Economia e Gestão Internacional levaram-me para novas leituras e pesquisas, numa prática pouco recomendável de me submeter aos estímulos de curto prazo resistindo aos de mais longo prazo.
E no meio dessas novas leituras e pesquisas a comodidade ruinosa (para a bolsa de cada um) das entregas num ápice da AMAZON UK (o estranho absurdo de um amante compulsivo das livrarias tanto contribuir para a sua ruína) trouxe-me às mãos uma obra de grande fôlego que, não sendo apresentada como um ícone da globalização, constitui uma das investigações mais sérias sobre a mesma. Estou a referir-me à The Cambridge History of Capitalism – volume I (The Rise of Capitalism: from Ancient Origins to 1848) e volume II (TheSpread of Capitalism: from 1848 to the Present).
A obra é coordenada por Larry Neal e Jeffrey G. Williamson, mas na série de artigos e entradas que a compõem encontramos nomes que tive o grato prazer de introduzir na FEP, como são os do próprio coautor Jeffrey G. Williamson, Kevin O´Rourke, Harold James e Peter Lindert.
Das evidências empíricas que a grande maioria dos interessados sobre o tema ignora ou subavalia, há uma que é particularmente intrigante. O grande século da globalização das pessoas foi sem dúvida o que evolui da segunda metade do século XIX até à Primeira Guerra Mundial. Ainda hoje, a intensidade das migrações humanas não atingiu os índices atingidos nesse primeiro século de globalização efetiva, isto apesar da enorme alteração das condições de contexto em matéria de transportes (aéreos sobretudo) e do conhecimento das condições de acolhimento da migração. A questão demográfica e a maior regulação desses movimentos (apesar da tragédia humana da corrida africana às costas mais vulneráveis da Europa) são talvez os fatores que melhor explicam esse paradoxo.

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