Já certamente perceberam que o bichinho da
globalização como matéria de estudo está permanentemente a estimular-me a memória
de uma prática docente e a puxar-me também para o desafio de, num dia destes,
me abalançar a colocar em livro o meu curso de Globalização
e Desenvolvimento Económico, com o qual terminei na FEP a minha série
de cursos construídos de raiz.
O convite em novembro passado para lecionar uma
aula sobre o tema ao Mestrado de Economia e Gestão da Inovação e agora a sua
repetição para o fazer no Mestrado em Economia e Gestão Internacional levaram-me
para novas leituras e pesquisas, numa prática pouco recomendável de me submeter
aos estímulos de curto prazo resistindo aos de mais longo prazo.
E no meio dessas novas leituras e pesquisas a
comodidade ruinosa (para a bolsa de cada um) das entregas num ápice da AMAZON
UK (o estranho absurdo de um amante compulsivo das livrarias tanto contribuir
para a sua ruína) trouxe-me às mãos uma obra de grande fôlego que, não sendo
apresentada como um ícone da globalização, constitui uma das investigações mais
sérias sobre a mesma. Estou a referir-me à The Cambridge History of Capitalism –
volume I (The Rise of Capitalism: from Ancient
Origins to 1848) e volume II (TheSpread of Capitalism: from 1848 to the Present).
A obra é coordenada por Larry Neal e Jeffrey G. Williamson,
mas na série de artigos e entradas que a compõem encontramos nomes que tive o
grato prazer de introduzir na FEP, como são os do próprio coautor Jeffrey G. Williamson,
Kevin O´Rourke, Harold James e Peter Lindert.
Das evidências empíricas que a grande maioria dos
interessados sobre o tema ignora ou subavalia, há uma que é particularmente
intrigante. O grande século da globalização das pessoas foi sem dúvida o que
evolui da segunda metade do século XIX até à Primeira Guerra Mundial. Ainda
hoje, a intensidade das migrações humanas não atingiu os índices atingidos
nesse primeiro século de globalização efetiva, isto apesar da enorme alteração
das condições de contexto em matéria de transportes (aéreos sobretudo) e do
conhecimento das condições de acolhimento da migração. A questão demográfica e
a maior regulação desses movimentos (apesar da tragédia humana da corrida
africana às costas mais vulneráveis da Europa) são talvez os fatores que melhor
explicam esse paradoxo.
Sem comentários:
Enviar um comentário