Não sou propriamente um ouvinte compulsivo de
registos sonoros de situações mais ou menos escabrosas, rejeitando o estatuto
de “voyeur” dos sons mais secretos. Por isso, demorei tempo a interessar-me
pela publicação por parte da TVI das gravações das reuniões do GES. Mas a crónica
de Pacheco Pereira no Público de sábado convenceu-me a gastar cerca de 20
minutos do meu precioso sábado de intenso trabalho para entregar um relatório
na data estranha de 26 de dezembro de 2014, correspondente à entrega para
reconhecimento oficial das Estratégias Integradas de Desenvolvimento
Territorial a promover pelas CIM NUTS III, para ouvir com atenção a gravação da
TVI que tanto incomodara os Espírito Santo.
Sem querer ser seduzido pelos apetites do
populismo fácil, a audição da gravação transportou-me para os tempos de um western ou de um filme negro no qual os
autores de um roubo audacioso a um banco ou a um qualquer cofre ou tesouro
escondido repartem entre si o fruto da ação, com as conhecidas e inevitáveis discussões
dos critérios da repartição a operar.
Com a gravação e a voz pausada de Ricardo Salgado
como mestre avisado e pausado de cerimónias, assistimos a uma modalidade
totalmente nova para mim de perceção da partilha de um excedente. Neste caso, o excedente resultado dos negócios obscuros dos submarinos e da gestão das suas contrapartidas.
É por isso um documento histórico e para além de
qualquer voyeurismo sonoro representa
a oportunidade única de se ouvir por dentro, num on line retrospetivo, como se repartem as benesses de um chorudo
resultado de negócio tudo menos claro e transparente. Como Paulo Portas passou
por entre as bátegas desta chuva pesada, tanto mais pesada quanto o contexto
atual em que se insere, constituirá uma eterna interrogação sobre os recônditos
meandros da justiça. Dificilmente no plano político poderá o líder do CDS –PP escapar
à permanente invocação deste obscuro dossier, não o podendo apagar da sua memória
cada vez mais seletiva.
O que se antecipa a partir do contexto atual para
a luta eleitoral de 2015 é de nos pôr os cabelos em pé, sobretudo porque quem
tem dois dedos de testa começa a prever que dificilmente chegarão ao debate eleitoral
as ideias e as questões que uma visão de longo prazo para o país exigiria.
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