Há cerca de um mês, tornou-se notada a declaração acima por parte daquela criatura indiana que o FMI cá colocou para suceder ao etíope Selassie em missão de policiamento e controlo dos indígenas que somos tidos por ser. O assunto voltou a suscitar reações de vária ordem, com os governantes e seus acólitos a insistirem acefalamente no milagre (mais coisa menos coisa) de que teriam sido obreiros ou catalisadores e as oposições e alguns economistas a contraporem-lhes outros factos, números e argumentos.
Só que, enquanto assim foi acontecendo, tudo se parecia passar muito ao nível de lutas corpo-a-corpo, qualquer que possa ser o foco e a agenda de cada um (político, partidário, ideológico, teórico, estatístico ou outro). Mas a publicação pelo Banco de Portugal do seu último “Boletim Económico” veio dar um outro alcance, forçosamente mais objetivo, à polémica anterior, sobretudo naquelas três páginas em que é abordada a dinâmica recente do emprego na economia portuguesa (Caixa 2, páginas 26-28) numa lógica que se pretende qualificada pelo recurso a um conjunto mais alargado de fontes estatísticas.
E o que se diz por lá, então? Por um lado, que não há razões assim tão fortes para a perplexidade que muitos crentes (na bondade dos ensinamentos da ciência económica e na seriedade dos responsáveis públicos) partilhavam com Subir: porque, afinal, “o dinamismo recente do emprego poderá não ser inconsistente com o crescimento moderado da atividade neste período”. Por outro lado, que se trata de uma consistência num contexto marcado pela mediocridade dos comportamentos: porque “o emprego privado por conta de outrem estará a apresentar uma recuperação desde o terceiro trimestre de 2013, mas mais moderada do que a sugerida pelo Inquérito ao Emprego” – ou mais concretamente ainda: porque “o nível do emprego privado por conta de outrem apresenta uma tendência globalmente ascendente desde 2013, mantendo-se contudo em níveis claramente inferiores aos observados até 2011” (ver gráfico abaixo). Por fim, que é de grande importância para o acréscimo do volume de emprego o contributo das políticas ativas de emprego, em particular dos estágios profissionais: porque “o número de indivíduos que se encontra em estágios profissionais apresenta uma evolução crescente, com particular incidência a partir do último trimestre de 2013”, estimando-se em particular “que o aumento significativo dos estágios profissionais no último ano terá contribuído para o crescimento homólogo do emprego privado por conta de outrem em cerca de 0,9 p.p. no terceiro trimestre de 2014 (0,8 p.p. na primeira metade do ano)” – i.e., mais de um terço da criação de emprego pelo sector privado em Portugal (os postos de trabalho estarão a crescer a um ritmo de cerca de 2,5% em termos homólogos) provirá assim de estágios profissionais associados às políticas ativas de emprego. E ponto final parágrafo...
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