terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O QUE SERÁ O PÓS-JARDINISMO?



A vitória de Miguel Albuquerque nas eleições para a liderança do PSD na Madeira, com uma vantagem que não é despicienda face ao candidato que assumia, com ligeira distanciação, a herança de Alberto João Jardim na Região Autónoma, constitui um acontecimento político de múltiplos significados.
Em primeiro lugar, facto que não tem merecido a atenção devida, a vitória de Albuquerque representa uma vitória de Passos Coelho e da sua linha dentro do PSD contra a qual o jardinismo tinha manifestado animosidade sem rodeios. Embora as Regiões Autónomas, não só a Madeira mas também os Açores, apresentem politicamente matizes e cambiantes face às forças políticas nacionais por vezes impercetíveis ao comentário político no continente, a oposição de Albuquerque a Jardim e ao seu modelo de governação incapaz de prever o anunciado esgotamento do modelo económico madeirense aproximou-o de Passos Coelho. Albuquerque talvez esteja mais próximo dos valores da social-democracia do que o próprio Passos, mas o posicionamento face a Jardim e à insustentabilidade das suas posições no momento atual do País projetaram-no para uma inequívoca proximidade a Passos.
Em segundo lugar, a vitória de Albuquerque reúne os traços que Jardim mais tinha repelido e agredido ao longo do seu longo período de governação. As suas origens quase aristocratas, a sua proximidade face aos meios culturais, principalmente musicais, a elegância de um cultivador de rosas estão próximas do mundo madeirense a quem Jardim dedicava um ódio de estimação, que ninguém consegue compreender a não ser invocando razões de classe. Por isso, interrogo-me se em boa linguagem portuguesa Jardim vai ficar quieto ou se estrebuchará à sua maneira.
Em terceiro lugar, a vitória de Albuquerque traz a umas eventuais eleições regionais antecipadas novos cambiantes que podem ofuscar trajetórias emergentes na Região, sobretudo quando a notoriedade de Albuquerque aumentou significativamente nos últimos tempos, primeiro pela forma como geriu as inundações devastadoras no Funchal, depois pelo afrontamento sem medo a Jardim, em condições bem difíceis de liberdade democrática.
Por tudo isto, sopram bons ventos na Madeira.
A minha impressão pessoal do novo líder do PSD é fugaz mas consistente. Posso dizer-vos que nunca vi um Presidente de Câmara ouvir com tanta atenção e discutir tão proativamente um trabalho em que tenha participado como Miguel Albuquerque o fez quando apresentamos a estratégia para a revisão do Plano Diretor Municipal do Funchal em que o atual executivo se tem embrulhado lamentavelmente.
E essa impressão é para mim crucial.

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