A vitória de Miguel Albuquerque nas eleições para
a liderança do PSD na Madeira, com uma vantagem que não é despicienda face ao
candidato que assumia, com ligeira distanciação, a herança de Alberto João
Jardim na Região Autónoma, constitui um acontecimento político de múltiplos
significados.
Em primeiro lugar, facto que não tem merecido a
atenção devida, a vitória de Albuquerque representa uma vitória de Passos
Coelho e da sua linha dentro do PSD contra a qual o jardinismo tinha
manifestado animosidade sem rodeios. Embora as Regiões Autónomas, não só a
Madeira mas também os Açores, apresentem politicamente matizes e cambiantes
face às forças políticas nacionais por vezes impercetíveis ao comentário político
no continente, a oposição de Albuquerque a Jardim e ao seu modelo de governação
incapaz de prever o anunciado esgotamento do modelo económico madeirense
aproximou-o de Passos Coelho. Albuquerque talvez esteja mais próximo dos
valores da social-democracia do que o próprio Passos, mas o posicionamento face
a Jardim e à insustentabilidade das suas posições no momento atual do País
projetaram-no para uma inequívoca proximidade a Passos.
Em segundo lugar, a vitória de Albuquerque reúne
os traços que Jardim mais tinha repelido e agredido ao longo do seu longo período
de governação. As suas origens quase aristocratas, a sua proximidade face aos
meios culturais, principalmente musicais, a elegância de um cultivador de rosas
estão próximas do mundo madeirense a quem Jardim dedicava um ódio de estimação,
que ninguém consegue compreender a não ser invocando razões de classe. Por
isso, interrogo-me se em boa linguagem portuguesa Jardim vai ficar quieto ou se
estrebuchará à sua maneira.
Em terceiro lugar, a vitória de Albuquerque traz
a umas eventuais eleições regionais antecipadas novos cambiantes que podem
ofuscar trajetórias emergentes na Região, sobretudo quando a notoriedade de
Albuquerque aumentou significativamente nos últimos tempos, primeiro pela forma
como geriu as inundações devastadoras no Funchal, depois pelo afrontamento sem
medo a Jardim, em condições bem difíceis de liberdade democrática.
Por tudo isto, sopram bons ventos na Madeira.
A minha impressão pessoal do novo líder do PSD é
fugaz mas consistente. Posso dizer-vos que nunca vi um Presidente de Câmara
ouvir com tanta atenção e discutir tão proativamente um trabalho em que tenha
participado como Miguel Albuquerque o fez quando apresentamos a estratégia para
a revisão do Plano Diretor Municipal do Funchal em que o atual executivo se tem
embrulhado lamentavelmente.
E essa impressão é para mim crucial.
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