terça-feira, 16 de dezembro de 2014

PEDRO-TROCA-OS-PASSOS

Não sei se têm reparado nos alucinantes progressos que imparavelmente vem revelando o nosso primeiro! É certo que Passos sempre teve aquele ar decidido, próprio de quem cedo se teve de fazer à vida no mundo cão da jota que lhe ficava mais à mão, e que o rapaz sempre soube fazer-se ouvir com a preciosa ajuda da voz de tenor que Deus lhe deu. Mas agora, e sobretudo do último Verão para cá, temos outro Passos, um Passos mais confiante e ostensivo, um Passos que finalmente descobriu o cerne da sua vocação: um catequista que não se coíbe de exibir a sua fixação doutrinária usando pose de grande estadista e espalhando a boa nova por hospitais, escolas, lares, pavilhões, rotundas e tudo o que mexa por esse País fora. A criatura sabe pouco, mas o pouco que assimilou usa-o para esta gratificante partilha com o povo e assim, em estreita comunhão, o encher de ensinamentos. Esse pouco que a criatura aprendeu fê-lo on job, quase como se o exercício da função de primeiro-ministro português pudesse na realidade funcionar como uma espécie de estágio profissional de uma qualquer ação do Fundo Social Europeu promovida por uma qualquer consultora tipo Tecnoforma. Mas, convenhamos seriamente, aquele desarticulado somatório de palavras que a criatura foi incorporando mais de ouvido que outra coisa – picando-as daqui e dali, num composto quase explosivo entre o economês ideologizado de Gaspar e demais troikistas e umas vulgatas de leitura leve e apressada, o politiquês vazio dos líderes europeus e a rasteira eficácia de coleguinhas tipo Relvas, Marco António, Pedro Pinto ou Moreira da Silva, a diversificada mundividência de diplomatas de croquete e presidentes de junta ronceiros ou as conversas às Quintas de manhã com Portas e certos moçoilos que se dizem ministros e às Quintas de tarde com o seu e nosso pai protetor Aníbal – soa-lhe como música tão celestial que preza cada vez mais, e definitivamente, ver-se naquela sua teatral representação de um erudito mestre-escola para que nunca se pensou tão talhado. E ainda há quem diga que Deus Nosso Senhor nunca dá tudo! Pois aí está ele a infirmá-lo, ele a quem o espelho gaba todos os dias a poderosa pose, ele a quem os assessores elogiam incessantemente o dedo recriminador, ele a quem o barbeiro não se cansa de exaltar o louro brilho das nuances, ele a quem a manicura tanto enaltece a dureza das unhas – até ao sabugo...

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