sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PARAGEM PARA ESCALA TÉCNICA

(Francesco Tullio Altan, http://www.repubblica.it)

Em pleno dia de Natal, sinto-me na obrigação de comunicar aos que vão tendo a paciência de passar por este espaço que vou fazer uma daquelas minhas semi-longas retiradas estratégicas. Estimo que sejam aí umas duas semaninhas sem blogar, salvo qualquer arrependimento que de momento não prevejo nem considero aliás provável. O que vale por dizer que o estado comatoso com que o futuro se me depara, sendo profundo, ainda não atingiu os cúmulos de liminar desistência explicitados pela senhora acima.

Andarei por paragens suficientemente longínquas para poder esperar que se me ofereçam estímulos em tudo diferentes dos habituais. Uma oportunidade para readquirir uma sadia distância em relação a “isto”, uma chance para recarregar baterias e reequilibrar quanto possível os mecanismos da mente, um cenário de que já muito carecia e que ansiava.

2014 foi em Portugal um ano absoluta e incomparavelmente louco, que chegou todavia na esteira de vários outros anos estranhos e difíceis, demasiados mesmo. Não cabe, em período natalício, especular sobre até onde no tempo remontam os principais fundamentos das nossas atuais torturas cidadãs. Na certeza de que haverá opiniões para todos os gostos: um governo que foi além da Troika, uma Troika ideologicamente radical e completamente desligada da realidade, os impactos de uma crise internacional sem precedentes, um anterior governo fantasista e sem freios, a deserção de um primeiro-ministro sem rumo que não o próprio, a demissão do anterior por recusa/medo do pântano, a opção pelo primeiro pelotão da moeda única europeia, as múltiplas perversões decorrentes do cavaquismo...

E paro hoje mesmo. O que me permite ladear comodamente as rubricas que se tendem a tornar obrigatórias em fim de ano, os balanços, os grandes acontecimentos, os melhores e os piores, as expectativas futuras. Talvez porque foi tal a balbúrdia destes meses e tão negras vão estando as coisas por este sítio que, na maioria dos casos, não tivesse muito a dizer de verdadeiramente útil. Ou simplesmente porque as datas são convenções que nem sempre merecem ser canonicamente respeitadas. Até breve e continuação de Boas e Felizes Festas!

(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário