O think-tank Bruegel tem uma excelente peça sobre os meandros deflacionários em que a zona
euro se movimenta, numa viagem atormentada que as operações de injeção de
liquidez do BCE no sistema bancário continuam a ter procura abaixo da esperada
pelas autoridades de Franckfurt.
O Natal está à porta, mas as previsões do índice
harmonizado de preços para a zona euro foram revistas em baixa para 0,7% em
2015 e 1,3% em 2016, confirmando ainda variações nesse índice em novembro de
2014 de 0,5% na Alemanha e de 0,4% em França. A chamada inflação core (core
inflation), que permite expurgar efeitos de variações temporárias nos preços, foi
pela primeira vez negativa desde 1990 em França.
E mais importante do que tudo isto, veio a confirmação
de que a percentagem de artigos que integram o índice harmonizado de preços ao
consumo na zona euro e que se encontram em situação deflacionária (descida de
preços) foi em novembro passado de 30%, o que contrasta com os 21% do início do
ano.
A nota do Bruegel pretende sossegar-nos com a
conclusão de que a percentagem de 30% de artigos do índice harmonizado em
deflação ainda contrasta com os 50-60% do Japão nos períodos de 2000-2004 e
2009-2012. Mas essa nota, longe de gerar sossego, diz-nos simplesmente que a
zona euro está próxima da “japanização” deflacionária com que a economia
japonesa se confrontou perante a incredulidade dos economistas que esqueceram
os temas da armadilha da liquidez. A Abeconomics pretendeu afrontar o problema
e o êxito da ida a votos do Primeiro-Ministro japonês que lançou a Abeconomics
deu-lhe o respaldo político que necessitava para a inversão de rumo.
O BCE não tem essa possibilidade a não ser por
acordos tácitos com políticos que estejam dispostos a alguma mudança de rumo. Mas
a sua injeção de liquidez parece não estar a ser capaz de influenciar a procura
de crédito e com isso a não fazer despertar a economia real.
Quem caça com gato sujeita-se!
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